Política em Análise

A aposta perigosa de Bolsonaro

Presidente some do horário eleitoral, usado para criticar seu principal adversário

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 19 de setembro de 2022 | 12:16
 
 
 
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Nos dois últimos dias de horário eleitoral destinado à Presidência da República, o presidente Jair Bolsonaro (PL) desapareceu. Ele usou todo o seu tempo para tentar desconstruir a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com críticas duras ao petista em todo seu tempo destinado no rádio e na TV. Trata-se de uma antecipação de estratégia de segundo turno, o que indica um temor de que perca as eleições já no dia 2 de outubro. A aposta, a última que sobrou para Bolsonaro, é arriscada.

A busca pelo eleitor médio, o indeciso e os que estão com outros candidatos não é fácil. Geralmente, são eleitores mais ponderados que a média e que se mostram, ao menos inicialmente, refratários à confusão e ao enfrentamento mais raivoso. Se fosse diferente, tinham escolhido já um dos dois primeiros colocados. Buscar esse eleitor, portanto, requer uma postura igualmente amena e ponderada. É o contrário do que Bolsonaro faz na TV, ao chamar Lula de ladrão, por exemplo. Por isso, é uma aposta arriscada.

Geralmente, esse tipo de artifício é utilizado pelos candidatos como última opção. Principalmente no segundo turno, quando ampliar a rejeição de um candidato é fundamental. No primeiro, é complicado, pois, em meio a vários candidatos, convencer o eleitor de suas propostas é a tarefa número 1. Sumido da propaganda por dois dias, Bolsonaro fica mais distante disso.

Há ainda dois efeitos perigosos na estratégia. O primeiro é que escancara a preocupação com uma derrota. Embora os discursos públicos de aliados do presidente indiquem que eles duvidam das pesquisas e que Bolsonaro tem segurança na vitória, o fato de usar todo seu tempo não para buscar votos de indecisos ou demais candidatos para para tentar reduzir os de Lula comprova que eles sabem o tamanho do problema e que há um real temor de derrota no primeiro turno. Nos bastidores eles admitem isso. O segundo problema é que a antecipação da estratégia ajuda ainda mais a trazer o segundo turno para o primeiro, podendo ajudar na estratégia petista que prega o voto útil. 

O desaparecimento do presidente da propaganda vem ao mesmo tempo em que o chefe do Executivo viaja para o exterior para o funeral da rainha Elizabeth II. Estratégia também contestada já que faz com que o candidato à reeleição perca preciosos dias de campanha. Ainda que, em Londres, ele tenha usado até mesmo a embaixada do Brasil, um prédio público, para discursar falando de eleição. Em meio a tantos chefes de Poder e com o reconhecido isolamento internacional, o funeral também pode trazer imagens com efeitos contrários aos pretendidos por Bolsonaro. Principalmente se o pedido de seus adversários para que ele não use imagens do evento for acatado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Aliás, o cenário particularmente difícil, com pesquisas dos últimos dias indicando que a tendência de diminuição da vantagem regrediu e que Lula pode ter ganhado fôlego de novo, fez o presidente reencontrar o discurso de contestação à Justiça Eleitoral. A despeito de todos os dados dos institutos, ele disse em entrevista ao SBT que, se não ganhar no primeiro turno, é porque algo anormal aconteceu no TSE. Exatamente o discurso que o afasta do eleitor médio e que adota sempre que vê poucas perspectivas de vencer nas urnas. Não é por acaso.

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