Ao divulgar a aliados a convocação para os atos do dia 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro endossou a análise de que, sem muita gente na rua, não conseguirá demonstrar força suficiente em seus embates institucionais. Seus aliados, então, tentam a todo custo mobilizar bolsonaristas para a presença na manifestação de apoio. De outro lado, porém, ações do Judiciário e do Ministério Público Federal (MPF) tentam lembrar a eles que excessos serão punidos, o que tende a ajudar a enfraquecer a propaganda dos atos.
Nos últimos dias, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) mandou prender Roberto Jefferson, o Ministério Público do Distrito Federal (MPF) denunciou o blogueiro Allan dos Santos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mandou as redes sociais suspenderem os pagamentos a páginas com notícias falsas, e um grupo de procuradores pediu investigação do cantor Sérgio Reis, um dos mais entusiasmados defensores dos atos. Em todos os casos, as acusações são de que houve não apenas o exercício direito da liberdade de expressão, mas crimes contra as instituições e autoridades.
Todas essas ações juntas tendem a fazer os apoiadores pensarem duas vezes antes de embarcarem na difusão de uma manifestação que se propõe transformar-se em uma espécie de levante pró-governo e contra Judiciário e Legislativo. E, claro, é levado em consideração por alguns o fato de que, enquanto o presidente da República está blindado pela posição de aliado ocupada pelo procurador geral da República, Augusto Aras, aqueles que não são detentores de foro privilegiado terão que enfrentar o peso da lei nas costas. De nada adiantou a filha de Roberto Jefferson, por exemplo, reclamar que o presidente não fazia nada pelo pai. Ele nem poderia fazer mesmo. E Jefferson segue preso. É um bom exemplo do que pode acontecer com outros apoiadores mais radicais.
Há quem já tenha sentido esse peso. Por causa disso, informa o jornal O Globo, mais de 200 vídeos foram apagados ou tornados privados por canais bolsonaristas após a decisão do TSE de barrar a remuneração dessas páginas (falo melhor sobre a legitimidade dessa medida em outra coluna, em breve). Às vésperas da manifestação que tem como principal foco a guerra de Bolsonaro com o Judiciário, inclusive com pedidos de intervenção militar, apoiadores estão sem saber se poderão usar a principal arma para encher as ruas: a radicalização.
Enquanto isso, políticos experientes no Palácio do Planalto, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), tentam apaziguar os ânimos com o Judiciário. A tarefa, porém, é difícil, pois depende de que Jair Bolsonaro recue na mobilização desses atos. E, hoje, após colocar nessas manifestações a régua que definirá o tamanho do apoio que tem, se der um passo atrás o presidente sairá como derrotado. Não deveria ser assim, mas é como ele pensa. Mesmo que, como já dito aqui, a quantidade de gente nas ruas não defina de fato o que pensa o brasileiro. A maior parte das pessoas, cansada, está tocando sua vida e cheio de problemas mais urgentes e pessoais para resolver. Não está indo gritar nem contra nem a favor de ninguém.