Na série que analisa trunfos e desafios de cada candidato, na ordem em que eles foram escolhidos em convenção, hoje é dia de falar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Líder da pesquisas, duas vezes presidente da República e contando com forte mobilização na sociedade, ele iniciará a campanha como favorito ao Palácio do Planalto, mas o sentimento antipetista ainda existente, as falas controversas na campanha e a dificuldade de enfrentar um adversário que está na função e dita os rumos no país são desafios que o petista precisará enfrentar.
Nada faz Lula mais favorito hoje do que os resultados que tem conseguido nas pesquisas. Ele está à frente há mais de um ano e, mesmo nos momentos em que o presidente Jair Bolsonaro (PL), o segundo colocado, parece reagir, sua intenção de voto pouco se move. Lula parece ter um piso de votos sólido e, por isso, mantém com tranquilidade uma liderança que, inclusive, o ajuda na construção de palanques com aqueles que vislumbram sua chegada no poder mais adiante.
Outro ponto que inegavelmente trabalha a favor de Lula é o histórico de governos bem avaliados. Lula possui um recall de grande líder do país, tendo deixado seu segundo governo com mais de 80% de aprovação. Mesmo que tenha perdido parte desse ativo ao longo dos tempos, principalmente com as dificuldades enfrentadas por sua sucessora e indicada Dilma Rousseff (PT), é relevante lembrar que Lula não precisa conquistar eleitores novos, mas apenas recuperar os que já teve e os que gostavam dele quando ele deixou o poder.
Por fim, há uma forte mobilização de setores da sociedade civil, incluindo artistas, influenciadores, advogados e todo um grupo de pessoas que, na onda do antibolsonarismo - principal força motriz dessa eleição no momento - enxergam em Lula o mais capaz de derrotar o atual chefe do Executivo. A eleição plebiscitária e decidida entre os dois é tudo o que Lula precisa, sobretudo para tentar ampliar as chances de vencer em primeiro turno, o que ele e seu partido nunca conseguiram em toda a história da redemocratização.
O principal desafio para que tenha êxito é a existência de um sentimento antipetista, que permeou as últimas eleições e que, embora menor, ainda persiste em parcela significativa da sociedade. Algo em torno de 40% do eleitorado não vota em Lula e no partido de jeito nenhum, o que permite que qualquer candidato que abocanhe esse sentimento seja plenamente competitivo. Afinal, por mais que a condenação de Lula tenha sido anulada, ele tenha sido solto e tornado elegível novamente, as lembranças de escândalos, investigações, delações e as montanhas de dinheiro devolvidos por figuras alinhadas ao PT não deixaram de existir.
Do alto da liderança nas pesquisas, Lula também tem cometido erros e, na preocupação de agradar a esquerda sobretudo nos momentos que antecederam a confirmação de Geraldo Alckmin (PSB) como seu vice, por vezes passou do ponto e assustou o eleitor médio. Falas sobre o aborto e críticas ao consumismo da classe média brasileira, por exemplo, trazem bons frutos juntos aos eleitores que ele já tem, mas assusta o cidadão de centro que muda de lado a cada eleição e define quem vence e quem perde uma disputa presidencial.
Por fim, Lula tem um adversário que, por mais que seja mal avaliado e com uma rejeição hoje alta, comanda os destinos do país. Com a máquina administrativa na mão, é Bolsonaro quem pode ditar os humores dos brasileiros, manejando ações que melhoram o ambiente econômico ou injetam dinheiro nas mãos de grande parcelas dos eleitores. Isso sempre fez um candidato à reeleição ser competitivo e, para Lula, seu principal adversário, sempre haverá o risco de que o cenário mude tão bruscamente que as intenções de voto enfim se movam depois de tanto tempo estagnadas. O petista é favorito, mas a campanha oficial ainda vai começar.