Política em Análise

Apoio à reforma tributária coloca Tarcísio e Bolsonaro em lados opostos

De olho no futuro eleitoral, governador passou a apoiar o texto, enquanto ex-presidente insiste em rechaçar proposta que diz que é de Lula

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 06 de julho de 2023 | 11:16
 
 
 
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O apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à reforma tributária, que pode ser votada nesta quinta-feira (6) na Câmara dos Deputados, contrapôs o chefe do Executivo estadual ao presidente de honra do PL e seu aliado Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente colocou posição taxativa contra o texto, enquanto Tarcísio, que no primeiro momento fez críticas mais severas à proposta, passou a defender a importância da aprovação. O desfecho ajudará a entender a força de cada um agora que o ex-presidente está inelegível.

A ação do governador de São Paulo em favor da reforma vem após conversas dele com outros governadores e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e da promessa de ajustes na governança do Conselho Federativo a ser criado pela proposta. Depois disso, Tarcísio afirmou, ao lado de Haddad, que é a favor de 95% da reforma. Na sequência, reuniu-se com o Republicanos, seu partido, e gravou vídeo ao lado do presidente da legenda, Marcos Pereira, anunciando apoio da sigla ao texto. A mudança de posição foi considerada fundamental para ampliar as chances de aprovação.

Paralelamente a isso, Bolsonaro continua irredutível contra o que chama de “reforma de Lula”. E, nos bastidores, manda recados a Tarcísio de que ele pode sofrer com ataques do bolsonarismo se resolver se rebelar contra a orientação do ex-presidente, seu padrinho político. Nas redes sociais, aliados do ex-chefe do Executivo, como o assessor e advogado Fabio Wajngarten, já fizeram ataques indiretos à posição do governador.

A posição insistente de Bolsonaro contra a reforma tem causado stress também no PL. O partido voltou a se reunir na manhã desta quinta-feira (6), e há pressões para que rediscuta a posição de fechamento de questão contra o texto. O fechamento de questão permite a punição aos parlamentares que voltarem a favor da reforma. O próprio Tarcísio, embora seja do Republicanos, participa da reunião e tenta convencer o PL a liberar a bancada ou orientar contra mas não punir dissidentes.

O grupo menos bolsonarista do PL e mais ligado ao Centrão quer votar a favor da proposta, por proximidade com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ele já avisou inclusive que não é recomendável que um partido se coloque contrário à reforma tributária. Essa pressão pode fazer com que o PL ao menos mude a posição para pedir um adiamento da votação, em vez de defender a rejeição.

Sobre Tarcísio, a posição não tem a ver apenas com desprendimento a questões ideológicas. O governador sabe que a postura de esticar a corda e confrontar questões quase unânimes na sociedade custou muito caro a Bolsonaro e não quer correr o mesmo risco. Para quem quer garantir uma reeleição tranquila em São Paulo ou mesmo uma candidatura presidencial, uma posição mais equilibrada no âmbito da reforma faz mais sentido. E evitar desagradar os industriais que costumam apoiar gordamente as campanhas eleitorais também é ponto relevante. A indústria, inclusive a Fiesp, se manifestaram favoravelmente ao texto. Além disso, ele não pode correr o risco de ser cravado como inimigo de uma reforma que pode virar ativo eleitoral importante em 2026. Para o inelegível Bolsonaro essas questões podem fazer pouca diferença, mas para Tarcísio não é bem assim.

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