Política em Análise

Aras sob pressão

De tanto tentar agradar Jair Bolsonaro para ganhar uma recondução, PGR vê situação no Senado, onde assunto é votado, piorar

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 18 de agosto de 2021 | 17:07
 
 
 
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Depois de tanto tentar agradar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em busca de uma recondução ao cargo de procurador geral da República, Augusto Aras agora vê um processo que era tranquilo ganhar algum grau de incerteza. No Senado Federal, o nome de Aras já não goza da mesma aprovação que inicialmente e, agora, a votação que pode garantir mais dois anos de mandato a ele tende a ser bem mais apertada do que a anterior.

O chefe do Ministério Público Federal sofre hoje pressão de todos os lados. Inclusive interna. Subprocuradores andam irritados com a postura do comandante do MPF. Consideram que ele tem prejudicado profundamente a imagem da instituição. E, por meio de notas e ofícios, dezenas deles estão sempre cobrando uma atuação mais incisiva de Augusto Aras para apurar eventuais desvios de conduta do presidente da República e de seus ministros. Eles também cobram uma defesa mais clara da democracia brasileira pelo procurador.

A situação não é diferente no âmbito externo. No Supremo Tribunal Federal (STF), onde Aras atua, há reclamações explícitas em despachos. Ministros cobram pareceres não entregues nos prazos estabelecidos por eles e observam, nas decisões, como a que prendeu Roberto Jefferson, que há descumprimento das previsões temporais. Aras também reclamou recentemente, em nota, da postura de alguns ministros. E, sabe-se, ministros do STF possuem grande influência sobre alguns senadores da República. Principalmente os encrencados na Corte.

Enquanto a sociedade cada vez mais cobra uma atuação de Aras, a situação piorou no Senado, mas ainda não é possível dizer hoje que ele não será reconduzido. Mesmo parte da oposição a Jair Bolsonaro costuma defender Aras nos bastidores, principalmente por conta das ações que ele tomou no MPF contra a Lava Jato. A operação era uma pedra no sapato de políticos e, por isso, ser contra Bolsonaro não é ser contra o chefe do MPF, ainda que vejam nele hoje um aliado claro do presidente.

Porém, a situação já foi melhor. Senadores imaginavam que, após o anúncio da recondução, Aras fosse menos “subserviente”, nas palavras que costumam usar. Achavam que, com a vaga no STF já designada a André Mendonça, e com a próxima só sendo aberta em um eventual segundo mandato de Jair Bolsonaro, ele ficasse mais à vontade para investigar o presidente. Nas últimas semanas, porém, a sensação de que Aras, como PGR, atua mais como um Advogado Geral da União (AGU) ganhou corpo. Assim, a parte da oposição que não dá tanta importância à Lava Jato já faz campanha aberta contra o procurador. Mesmo os senadores contrários à operação já começam a fazer o cálculo do desgaste de sustentar um procurador que hoje só tem agradado o núcleo mais próximo do governo. De tanto lutar pela recondução, Aras pode até, se a situação se agravar, perdê-la.

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