Política em Análise

Base do futuro governo cresce e já gera ciúmes e mudança de discurso

Críticas ao orçamento secreto são minimizadas enquanto aliados de Bolsonaro começam a embarcar na aliança de Lula

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 04 de novembro de 2022 | 09:51
 
 
 
normal

Ainda falta bastante tempo para que o futuro governo assuma o comando do país. Mas com o início da transição e a negociação acerca do Orçamento de 2023, a construção da base aliada do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está a todo vapor. E com acenos de adesão de todo lado. Tamanho apetite por aproximação com o novo governo tem gerado, inclusive, os primeiros ciúmes dentro da base que já apoiava o petista nas eleições. Disposto a aprovar projetos anunciados na campanha, a nova gestão já começa, inclusive, a abandonar certos discursos, como a crítica peremptória ao orçamento secreto. 

Se quando foram revelados os resultados das urnas no primeiro turno algumas análises apressadas apontaram uma situação bem delicada para um eventual governo Lula no Congresso, hoje o cenário é diferente. Além do grupo de 139 parlamentares de legendas que já estavam com o petista na campanha eleitoral, o novo governo tende a conseguir avançar bastante em uma aliança formal com PSD (42 deputados), MDB (42) e União Brasil (59), que se colocam como independentes. Líderes desses partidos têm deixado claro que grande parte dessas siglas apoiará o governo imediatamente.

Mesmo no grupo de 190 parlamentares de siglas que estiveram mais próximas de Bolsonaro, como PL, PP e o Republicanos, Lula pode avançar em até metade deles. No PL de Bolsonaro, cerca de 40 dos 99 deputados federais eleitos estariam dispostos a conversar. No PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira também há lulistas de outra época. A indicação de apoio à reeleição do presidente da Câmara tende a tornar a sigla ainda mais propensa a um acordo com a nova gestão.

Com tanta gente querendo entrar na mesma canoa, já há ciúmes no ar. Isso explica a declaração do senador Renan Calheiros (MDB-AL) de que a equipe de Lula faz uma “barbeiragem” ao negociar apoio à PEC da Transição com o Centrão. Seu discurso é de que não haveria necessidade de uma composição com o núcleo desse grupo, pois seria possível montar uma base sem eles. Na realidade, está o incômodo com a aproximação rápida do presidente eleito com Arthur Lira. O presidente da Câmara é adversário radical de Renan em Alagoas e, olhando para as futuras eleições, o emedebista incomoda-se com a manutenção da força do deputado.

Essa força, aliás, baseia-se sobretudo no orçamento secreto. Para ter seu apoio e conseguir aprovar as primeiras medidas, o futuro governo já diminuiu a pressão pelo fim do orçamento secreto. Agora, fala-se apenas em dar um pouco mais de transparência para as chamadas emendas do relator, mas sem tirar do Legislativo o controle sobre parte expressiva dos recursos públicos. O PT passou a avaliar que o orçamento secreto pode ser integrado aos programas do governo. No caminho da oposição ao governo, a realidade começa a se impor.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!