Política em Análise

Câmara mais arisca

Insatisfeitos com o líder Léo Burguês, vereadores deram vários recados ao Executivo na semana passada

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 15 de março de 2021 | 10:05
 
 
 
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A Câmara Municipal de Belo Horizonte mostrou na última semana que deve ter uma postura um pouco mais arisca com a prefeitura da capital em 2021 do que foi no primeiro ano de mandato do prefeito Alexandre Kalil (PSD). Uma série de pequenas derrotas impostas ao Executivo municipal tentou demonstrar um descontentamento de uma ala da Casa sobretudo com a manutenção da liderança do vereador Léo Burguês.

Os recados nesse sentido foram dados de diversas maneiras. Na sexta-feira, por exemplo, no mesmo dia em que o prefeito anunciava medidas mais restritivas para combater o avanço da pandemia em Belo Horizonte, vereadores da capital convocaram o secretário de Saúde do município, Jackson Machado. Além disso, eles aprovaram um projeto que susta um decreto do Executivo e, com isso, abre caminho para a volta às aulas presenciais na cidade. O texto ainda precisa passar em segundo turno, então na prática foi mesmo apenas um recado. Evidentemente, de péssimo tom, considerando a necessidade de conscientização da população para a gravidade da pandemia neste momento.

Outra dificuldade enfrentada na última semana foi em relação à votação de um empréstimo de US$ 160 milhões destinados a Programa de Redução de Riscos de Inundações e Melhorias Urbanas na Bacia do Ribeirão Isidoro. Esse, porém, já está sendo destravado. Após não conseguir votá-lo dentro das reuniões ordinárias do mês que acabaram na semana passada, a Câmara marcou duas reuniões extraordinárias para a terça-feira com esse objetivo. Isso só foi possível após o secretário de Governo, Adalclever Lopes, um experiente articulador político, entrar em cena, junto com o secretário de Obras, Josué Valadão, para tirar dúvidas de alguns vereadores sobre o tema. Esses parlamentares reclamavam da passividade do líder Léo Burguês com o tema na semana passada.

Hoje, a base de Kalil é menor e menos fiel. Fontes na Câmara explicam que isso se deu após o rompimento com o PP, que lidera um bloco que tem seis vereadores. Nessa conta, considerando que, já de olho em 2022, três parlamentares do Novo não vão dar vida fácil para o prefeito, e que o bolsonarista Nikolas Oliveira vai sempre votar contra a prefeitura, já são dez vereadores a menos para dar apoio, fazendo com que quase todos os outros tenham que ser convencidos para aprovar projetos do Executivo.

E isso não é fácil considerando a resistência dos grupos evangélicos da Casa. Foi o que se viu após a decisão da prefeitura de ter fechado igrejas para cultos também para tentar conter o avanço de casos e mortes e a ocupação de leitos de UTI na capital. É preciso lembrar que a bancada cristã é majoritária na Casa. Na sexta, inclusive, esse grupo, reunido na Frente Parlamentar Cristã, redigiu um documento assinado por 28 parlamentares pedindo que a restrição a igrejas seja revogada. Se esse grupo resolver criar problemas para a PBH, a vida de Kalil será mais difícil.

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