Os pedidos de moderação feitos por integrantes do centrão ao núcleo do Palácio do Planalto - e que vão dar o tom hoje da posse de Ciro Nogueira (PP) na Casa Civil - são apenas protocolares. Não há nenhum ingênuo no grupo que ache de verdade que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vá diminuir a carga de ataques a cada entrevista ou conversa com seus apoiadores. É uma justificativa ao eleitor e um ensaio do argumento para, lá na frente, abandonar o barco quando a fonte tiver secado.
Bolsonaro foi forjado assim. Atacar é de sua personalidade. Gostemos ou não do seu estilo, foi eleito agindo desse jeito e, para muitos, justamente por isso. Sua carreira toda, desde os tempos em que preocupava-se apenas com as pautas paroquiais dos militares, foi alimentada pelo confronto e pela polêmica. Não vai mudar em razão de pedidos do centrão. É mais fácil acontecer o contrário.
O presidente tem um núcleo fiel de apoiadores que não o abandona por nada. E para quem fala quando vai ao ataque contra os demais Poderes numa tentativa de se dizer contra o sistema e afastar-se justamente do julgamento que recebe ao vincular-se ao centrão. Colocar Ciro Nogueira na Casa Civil, portanto, força justamente a ampliação da estratégia de arrumar guerra com outros atores políticos para manter viva essa narrativa. O centrão, embora peça moderação, vai entregar na verdade mais argumentos para que Bolsonaro vá ao ataque.
Todo mundo que faz parte do centrão sabe disso. Ninguém tem qualquer esperança de que os pedidos ao presidente tenham qualquer efeito. O fazem, e espalham publicamente esses conselhos, apenas para garantir uma justificativa aos eleitores. Estão dizendo: ‘Olha, estamos com o governo, ajudando o país, mas não concordamos com os ataques às instituições e o discurso raivoso. Inclusive estamos tentando fazer o presidente mudar. Se dependesse de nós, tudo seria diferente’.
Esse discurso, sabe bem o centrão, é fundamental para garantir viabilidade na próxima disputa eleitoral. Eles sabem que o eleitor, diferentemente do que se viu em 2018, está cansado de confusão o tempo inteiro. Assim, o grupo também já prepara o argumento para um futuro desembarque. Quando, lá na frente, mais perto da ida às urnas, esses políticos pegarem as pesquisas e perceberem qual o melhor caminho para continuarem no poder, vão usar exatamente essa justificativa: a de que deixaram o governo por não terem sido atendidos nos anseios de moderação, e enfatizando que ‘o Brasil não aguenta mais isso’. Quando fizerem isso, já terão aproveitado ao máximo o que o atual governo tem a oferecer, que é o mesmo que os governos anteriores ofereciam: cargos e controle de enormes quantias de dinheiro. Sempre foi assim.