Política em Análise

Chapa tucana em Minas atrapalha Zema

Decisão do PSDB de lançar candidato próprio pode dificultar ainda mais a costura de alianças do governador, que já era ameaçada pelas articulações de Carlos Viana

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 05 de maio de 2022 | 10:41
 
 
 
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A decisão do PSDB de lançar candidatura própria em Minas Gerais é mais uma pedra no sapato do governador Romeu Zema (Novo), que enfrenta dificuldades para estruturar as alianças em sua caminhada rumo à reeleição. Além do assédio da candidatura do senador Carlos Viana (PL) a partidos aliados de Jair Bolsonaro e que estão em tratativas com o Novo, agora há um novo foco de dissidências que os tucanos pretendem explorar.

O PSDB anunciou que terá candidato próprio e elencou a hipótese de colocar Marcus Pestana como nome ao governo de Minas, com o vice de Zema, Paulo Brant, como nome ao Senado. Essa definição atende a uma série de anseios do PSDB, mas o principal deles é achar uma saída para o fato de a sigla estar sendo preterida na chapa de Zema. Nem mesmo estando hoje com o cargo de vice o PSDB recebeu a atenção que acha que merece. Zema tem priorizado PP e União Brasil nas conversas sobre vice e Senado, por exemplo, o que fez os tucanos perderem a paciência.

Não é de hoje que aventa-se a hipótese de os tucanos lançarem uma alternativa ao governo de Minas. Outros partidos também já contavam com isso. O PDT, por exemplo, inicialmente viu com bons olhos, pois enxergou a hipótese de conseguir um palanque, ainda que compartilhado, para Ciro Gomes em Minas Gerais. A legenda tem proximidade histórica com os tucanos em Minas, assim como outros partidos que podem se unir a essa chapa. O União Brasil, apesar das conversas com Zema, é composto por ex-integrantes do DEM profundamente ligados aos governos tucanos. Avante e Podemos também estão sendo procurados. Isso sem falar no Cidadania, que por ter feito federação com o PSDB, estará obrigatoriamente em uma chapa que se concretizar. Digo isso caso a chapa realmente saia do papel, pois nunca se descarta a hipótese de os nomes terem sido lançados para pressionar o Novo a dar um pouco mais de atenção e espaço aos tucanos nas discussões de sua composição.

O ponto de atenção para Zema é justamente o risco de perder essas legendas e, ao mesmo tempo, ver ameaçado o apoio de partidos pró-Bolsonaro, como o PP e o PSC, que poderiam acabar migrando para a chapa de Carlos Viana em meio à pressão do Palácio do Planalto. Essas legendas, em razão de situações regionais e do peso da máquina, preferem ficar com Zema, mas a depender do quanto o presidente vai se empenhar por Viana, podem ser obrigadas a mudar de lado por seus diretórios nacionais.

Alguns podem dizer que Zema, como governador e já tendo vencido em 2018 sem apoio, não precisaria de alianças. Muita gente no Partido Novo pensa assim. Mas as eleições de 2022 nem de longe são iguais às de 2018. Naquela época, Zema enfrentou dois partidos com forte rejeição àquela altura e com o eleitor buscando uma nova opção. Ele acabou herdando esse posto ao se destacar levemente entre os demais competidores na reta final do primeiro turno, e surfando na onda de Bolsonaro. Tudo bem que, sendo governador e tendo a visibilidade do cargo, não vai faltar atenção a Zema na campanha por parte do eleitor. Mas justamente por estar disputando a reeleição, ele será o principal alvo dos adversários. Sem inserções de TV para combater essas críticas, certamente fica um pouquinho mais difícil. 

É claro que as redes sociais hoje compensam muito da falta de tempo de TV, mas a ausência de alianças também prejudica a capilaridade da campanha. Não quer dizer que prefeitos que hoje apoiam Zema vão mudar de lado e passar a criticá-lo em suas cidades. Mas os apoios e palanques vão ficar escassos na medida em que esses partidos se alinharem a outro projeto. O jogo da política tem dessas variáveis que não podem ser abandonadas em uma eleição que, ao contrário do que pensa parte do Novo, será bem difícil.

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