Política em Análise

CPI pode liquidar ou viabilizar Sergio Moro

Reflexos na eleição são incertos e vão depender do que for encontrado quando as investigações começarem a mexer no assunto

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 25 de janeiro de 2022 | 11:13
 
 
 
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A CPI que o deputado petista Paulo Teixeira (SP) tenta criar contra o candidato do Podemos à Presidência da República, Sergio Moro, pode liquidar as pretensões do ex-juiz e ex-ministro da Justiça ou dar a ele a chance de rivalizar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Concluir por um ou outro desfecho só é possível para quem sabe o que encontrarão quando escarafuncharem os arquivos, o contrato, contas bancárias e conversas telefônicas do ex-magistrado. O que sabemos é que, sim, a CPI, se vingar, terá papel preponderante nas eleições de 2022.

Ainda não é possível dizer que a criação da comissão vá adiante. Embora haja interesse por parte dos petistas, do Centrão e de outros aliados do governo Bolsonaro, há quem tema o efeito contrário que tal mobilização poderia gerar. É um fato que, se a CPI ocorresse, Moro estaria muito mais em voga do que está hoje. E que seus aliados e ele próprio usariam todo o espaço disponível para apresentar à opinião pública a versão de que tudo não passa de uma vingança de acusados de corrupção e atingidos por ações que ele tomou no âmbito da Lava Jato. Moro vai explorar à exaustão a narrativa de que são corruptos contra combatentes anticorrupção.

Por outro lado, isso tudo iria para o brejo se, ao longo das investigações e sob o bombardeio dos parlamentares, Moro acabar vendo aparecer conversas incômodas ou informações bancárias que indiquem de forma cabal que algo foge bastante da versão até agora apresentada tanto para a Lava Jato quanto para a consultoria que prestou no exterior atualmente.

Considerando que hoje Moro é o terceiro colocado e ainda aparece com intenções de voto modestas em relação aos dois primeiros colocados (embora seja o melhor posicionado na terceira via), a ameaça de CPI pode ser apenas um artifício a ser usado para tentar convencê-lo a desistir da corrida eleitoral. Mesmo com dificuldades para articular politicamente sua candidatura, principalmente de formar palanques estaduais, Moro tem reiterado que não vai disputar outro cargo. Ainda assim, muita gente no meio político considera que ele pode ficar pelo caminho. Ameaçar com uma CPI pode fazê-lo refletir sobre se vale a pena tentar um passo tão grande, se não é melhor focar em um cargo para o qual tenha mais chances de conseguir o foro privilegiado, ou se é melhor deixar a política de lado e voltar sua carreira ao meio privado de agora em diante.

Com tantas incertezas, chama bastante atenção a postura dos bolsonaristas, absolutamente divididos sobre o tema. O ministro Ciro Nogueira (PP) aplaude a iniciativa em grupos de mensagem e o ex-líder do governo Major Vitor Hugo (PSL) reforça a tese de que houve conflito de interesses por parte de Moro ao prestar consultoria para empresa que administra abacaxis de empresas que foram alvo da Lava Jato. Outros parlamentares, por outro lado, aproveitam a iniciativa para atacar o PT, apontando que o partido busca vingar-se da Lava Jato para proteger seus corruptos.

Os reflexos de uma possível CPI ou de outras iniciativas que buscam emparedar Moro vão depender de qual narrativa vai emplacar junto ao eleitor: a de que há uma vingança de apanhados em corrupção contra o ex-juiz da Lava Jato, ou a de que há conflito de interesse flagrante na aceitação, por parte do juiz, da proposta da consultoria norte-americana? Parece-me que, neste caso, que qualquer uma das duas conclusões está correta ao menos em parte. É inegável que há muita gente pega na Lava Jato sedenta de vingança. Por outro lado, ao aceitar a consultoria, Moro meteu-se em mais um caso de suspeição, no mínimo moral, tal qual fez ao entrar para o governo do adversário daquele que ele ajudou a tirar da eleição.

Ademais, não deixa de ser incoerente que os acusam Moro de ter usado a Justiça para tirar Lula da disputa em 2018 agora queiram fazer o mesmo com ele por meio de uma investigação no Congresso. No fundo, trata-se apenas de vale-tudo eleitoral.

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