Não pode haver dúvidas sobre nosso compromisso com a democracia. Sendo assim, o debate sobre a declaração de Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, de que “por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”, é válido e, mais que isso, necessário. Foi importante ver entidades e personalidades políticas, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão, rechaçando a hipótese de qualquer ruptura. Também foi importante ouvir o próprio vereador fluminense tentar se justificar dizendo que não quis dizer o que quase todo mundo interpretou. É sinal de quem nem todos os filtros estão eliminados no Brasil. E é até possível considerar que Carlos Bolsonaro realmente não tenha tido a intenção de dizer o que disse, considerando que ele tem dificuldades nítidas de se expressar por via escrita nas redes sociais.
De toda forma, o episódio é fundamental para que, mais uma vez, repudiemos qualquer tentativa de limitar a democracia no Brasil. Nosso sistema político tem enormes problemas. Nenhum dos três Poderes faz o serviço que o cidadão merece. Não há dúvida. Mas o problema não é exatamente o ambiente democrático, mas as deformações que o ser humano faz nele. Isso inclui a corrupção de toda a espécie – como a que estaria configurada em caso de comprovação da prática de rachadinha no gabinete do irmão de Carlos – ou a incompetência, como a que se vislumbrou na gestão do governo de seu pai na crise das queimadas na Amazônia. No que isso difere dos malfeitos apontados pelos Bolsonaro nas gestões anteriores?
Daí a achar que é melhor viver em uma ditadura vai um longo caminho e, para aceitá-lo, é preciso se unir, à esquerda ou à direita, aos que defendem o regime na Venezuela, na Coreia do Norte, em Cuba ou na Arábia Saudita. E a esses eu peço que cite hoje uma ditadura no mundo traz vida boa aos seus cidadãos. Não tem.
Ouça o comentário do editor de política de O Tempo, Ricardo Corrêa: