Em pleno ano de 2019 ter que rediscutir a importância da democracia é desanimador, mas para que não pairem dúvidas e para que ninguém ouse tentar fazer diferente, é sempre importante repetir: ditadura nunca mais! Ainda mais necessário quando o deputado federal mais votado do Brasil deixa de ter pudores ao aventar uma reedição do Ato Institucional nº 5, o mais cruel de todos os editados pela ditadura militar que governou o Brasil por décadas.
A reação na sociedade civil organizada, na imprensa e na classe política organizada, porém, mostrou que esse tipo de pensamento não prospera. Eduardo Bolsonaro não apenas não conseguirá impor um novo AI-5 como pode acabar sem mandato. Sua fala foi tão despropositada que até seu próprio pai questionou publicamente e ele precisou pedir desculpas. Também se manifestaram os presidentes das duas Casas do Congresso, ministros do Supremo Tribunal Federal, movimentos sociais e os mais diversos partidos, à esquerda e à direita, incluindo o rachado PSL.
Muito provável é, inclusive, que a cassação do filho seja oferecida como um recado ao pai para que modere o discurso. Se depender da oposição, de boa parte do PSL e do centrão, Eduardo já pode começar a juntar suas coisas.
É bom lembrar o saldo do AI-5. Dezenas de mortes, tortura, fechamento do Congresso e de Assembleias e censura às artes, à imprensa. Algo que o mundo atual não tolera e que não dá certo em lugar nenhum. Pouco importa se ocorre à direita, como na Arábia Saudita onde o príncipe é acusado de matar jornalista, ou nos regimes comunistas de Cuba e Coreia do Norte.
Não é de hoje que a família Bolsonaro flerta com a volta dos tempos da ditadura. Sempre foi grave. Mas agora que o grupo está no poder e pode dispor de instrumentos para implementar tais disparates, é preciso que o repúdio a esse tipo de posicionamento seja mais firme. A democracia deve estar acima de qualquer projeto de poder.
Estou saindo de férias hoje e volto em 30 dias, com a esperança de que, na volta, a democracia esteja mais sólida do que nunca.