Os resultados das pesquisas de intenção de voto mostrando um cenário estabilizado e com larga vantagem para o prefeito Alexandre Kalil (PSD), que parece hoje caminhar para uma vitória no primeiro turno, não torna a reta final das eleições na capital menos importante para os outros candidatos. O tamanho das vitórias e das derrotas nessa disputa também faz enorme diferença sobre o futuro político de cada um dos concorrentes.
Eleições anteriores já mostraram muito bem que há pleitos que começam em um ciclo e terminam só no outro. Assim se deu, por exemplo, com Rodrigo Pacheco (DEM), que, embora tenha perdido a disputa de 2016 em BH, acabou transformando aquele resultado em uma grande vitória mais adiante. Apesar de ter ficado de fora até mesmo do segundo turno, a boa votação em sua estreia em uma disputa majoritária deu-lhe forças suficientes para conquistar uma vaga no Senado dois anos depois e tornar-se uma das figuras políticas mais importantes no Estado atualmente.
Délio Malheiros, por outro lado, que disputou as mesmas eleições e, tal como Pacheco, ficou de fora do segundo turno, teve uma derrota plena. Mesmo com o apoio do então prefeito Marcio Lacerda, que era bem avaliado na ocasião, fracassou. De tal forma que foi retirado plenamente do jogo político. A carreira foi interrompida de forma abrupta e ele tornou-se carta fora do baralho um dia depois das eleições. O mesmo pode se dizer de João Leite (PSDB), que, ao contrário dos outros, foi para o segundo turno, mas terminou a eleição sabendo que seu patamar máximo na política vai ser o de deputado estadual.
Exemplos também se deram na disputa federal de 2018. Enquanto Geraldo Alckmin, com um latifúndio de tempo na TV, teve fim melancólico, Ciro Gomes, que da mesma forma ficou fora do segundo turno, continuou viável ao garantir os dois dígitos na corrida eleitoral mesmo pouco aparecendo na TV e tendo forte concorrência na esquerda.
Nas eleições atuais, caso a situação não mude e Kalil vença no primeiro turno, os candidatos em BH ainda têm desafios a cumprir e que vão definir seus rumos. Na campanha de Áurea Carolina (PSOL), por exemplo, não é de hoje que se faz a avaliação que as chances reais dela seriam no próximo pleito e que esse seria importante para firmar seu nome. Assim, Áurea já pode sair maior se conseguir, mesmo com menos tempo de TV e estrutura, ficar à frente dos demais candidatos da esquerda, em especial o do PT, Nilmário Miranda. Isso ajudaria a convencer o partido de Lula a aceitar uma aliança de esquerda na capital nas próximas corridas eleitorais.
João Vítor Xavier, por outro lado, precisa mostrar muito mais que Áurea para continuar viável. Com muito mais tempo que a maioria dos adversários e com poderio financeiro de sua coligação, tem obrigação de terminar as eleições acima dos dois dígitos e com crescimento. Se não fizer isso, sairá menor do que entrou e ficará mais difícil sonhar com novos passos mais adiante. A aposta de enfrentar um prefeito bem avaliado foi grande e, ao fim da disputa, saberemos se o passo foi maior que a perna.
Há quem já viva um clima de fim de festa também. Lafayette Andrada, por exemplo, entrou nessa eleição sabendo que vive um momento central na trajetória política. Já com muito tempo em cargos do Legislativo, ele fracassou nas tentativas de tornar-se prefeito em Juiz de Fora e, em Belo Horizonte, faz sua última aposta para crescer. Com a situação atual, torna difícil tentar de novo ou até mesmo buscar uma vaga no Senado mais adiante. Além do resultado ruim até aqui, viu no episódio da soltura de André do Rap um enorme ducha de água fria em qualquer pretensão de crescer politicamente.
Por fim, é bom também lembrar da situação do próprio Kalil. O tamanho da vitória que pode obter se não for afetado por uma brusca mudança no cenário, claro, o reforça para uma eventual pretensão de ser governador ou vice em uma disputa presidencial. Nos bastidores políticos, dizem que o prefeito teria mais interesse hoje em ser eventual vice de Ciro Gomes (PDT) do que candidato ao governo, para enfrentar um candidato à reeleição e para assumir um Estado quebrado. Mas se for eleito com mais de 70% dos votos na capital como parece pintar neste momento, vai poder escolher em qual disputa entrar, com chances, ainda que enfrente outros candidatos com força eleitoral.