Política em Análise

Governo perdido sobre socorro econômico

Em meio à incapacidade de tomar medidas para salvar a economia como outros países estão fazendo, estratégia do presidente é forçar o Brasil a voltar à normalidade

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 26 de março de 2020 | 10:16
 
 
 
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É inegável que a crise que estamos vivendo não traz reflexos duros apenas na saúde pública, mas também na esfera econômica, o que sem dúvida acarretará problemas sociais de grande monta no futuro se nada for feito. Ninguém contesta isso, apesar de o presidente da República viver falando por aqui como se ninguém estivesse preocupado com esse aspecto.

Ocorre que o governo federal parece, até o momento, não saber como lidar com essa que pode ser uma das mais graves econômicas da história de nosso país. Por enquanto, o que se vê é um Ministério da Economia perdido, tomando medidas estanques, mas sem um plano claro desenhado. Não há nem um norte sobre o socorro econômico às empresas, nem sobre a proteção dos trabalhadores. Viu-se apenas uma medida provisória mal redigida e que acabou tendo parte de seus efeitos eliminados ante mesmo de ser enviada ao Congresso.

E isso ajuda a explicar a razão pela qual o presidente da República gasta tempo e dinheiro do brasileiro defendendo que as coisas voltem ao normal, com o país abrindo mão do rígido isolamento horizontal que o mundo inteiro adota atualmente.

Sem saber como salvar a economia, o governo prefere que os brasileiros finjam que não há qualquer problema. Que trata-se de histeria e gripezinha e que as pessoas e empresas devem voltar às suas rotinas o mais rápido possível. É uma interpretação velada do famoso “O que não tem remédio, remediado está”.

Economistas e países do mundo inteiro já mostraram que o eficaz nesse momento, mesmo às custas das contas públicas, é o governo socorrer a economia e as pessoas. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI), bastião na defesa do controle do gasto público, aponta que agora não é hora de apertar os cintos, mas de colocar dinheiro na economia. É hora de discutir renda mínima e empréstimos subsidiados a empresas. Sim, vamos pagar essa conta, mas é melhor que seja de forma suave, ao longo dos próximos anos do que às custas de empregos e falências. E, não, se o caos econômico e social acontecer não será culpa de prefeitos e governadores que fazem o possível para manter a população de seus territórios segura e o sistema de saúde minimamente capaz de enfrentar os casos graves. Será do governo federal, que quer que a sociedade, às custas de milhares de vidas, resolva um problema de ordem econômica que só a União pode resolver. Para isso serve um governo. Se este não se sente preparado, que passe a missão a outro.

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