Política em Análise

Guerra aberta em Minas

Governador Romeu Zema troca o figurino de governador pelo de candidato e entra no embate com a Assembleia Legislativa

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 08 de julho de 2021 | 09:53
 
 
 
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A entrevista do governador Romeu Zema (Novo) à rádio Super 91,7 FM ontem, e a reação que suas críticas a deputados estaduais gerou na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) deixaram claro que, mais do que ter rachaduras, a relação entre os dois Poderes foi partida ao meio, sem qualquer possibilidade de que seja reconstruída até as eleições de 2022. Na entrevista, saiu de cena o governador para entrar o pré-candidato à reeleição, que deixou um discurso ainda moderado no passado para entrar de sola no embate político.

Zema já tinha alfinetado os deputados e gerado incômodo na ALMG outras vezes. Porém, isso tinha sido feito genericamente, em instâncias ou veículos internos do partido. E as falas mais ásperas sempre haviam sido colocadas como deslizes ou palavras infelizes, e que não representavam o que o governador de fato pensava sobre o Legislativo. Dessa vez foi diferente. Zema bateu duramente nos deputados em questões diretas, sobre fatos concretos, em perguntas sobre a CPI da Cemig, sobre a postura do presidente da Casa, Agostinho Patrus (PV), e sobre a posição da ALMG em relação ao acordo da Vale. Não caberia mais, nesse caso, alegar que houve uma interpretação exagerada das críticas, que tenha sido algo tirado do contexto ou algo assim.

A reação na Assembleia, claro, foi a pior possível e, do ponto de vista do futuro dessa relação, parece claro que o governo não terá qualquer capacidade para aprovar nada que seja relevante e que traga uma polêmica mínima que seja. A pauta das desestatizações, por exemplo, não apenas não andará como será utilizada para desgastar o governo na CPI da Cemig. A situação das finanças do Estado também tende a entrar no foco dos debates. Após uma reunião do Assembleia Fiscaliza ser suspensa com a falta de informação por parte do secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa, sobre valores nas contas do governo, isso voltará a ser discutido. Parece evidente que os parlamentares buscarão saber se o Executivo tinha ou tem dinheiro para acabar com o parcelamento dos salários e, por opção, prefere manter recursos nas contas para que renda e diminua o rombo nas contas públicas.

A relação difícil de Zema com os deputados e, por conseguinte, com prefeitos a eles ligados, também tende a dificultar a formação de alianças para 2022, num momento em que o próprio governador diz que não pretende caminhar sozinho. A reação do líder do Governo, Gustavo Valadares (PSDB), que pediu gentilmente que o governador ficasse quieto, é um bom exemplo de como esse embate prejudica o contato com partidos. Há quem apostasse que o PSDB poderia estar com Zema. Com o governador dizendo-se o responsável por acabar com décadas de “boiadas passando” no Estado (a maior parte desse período com os tucanos no comando), parece-me que essa aliança fica incompatível.

É exatamente na campanha eleitoral que reside a mudança de postura de Zema. Sabendo que provavelmente enfrentará Alexandre Kalil, que tem postura áspera e dura, falando sem pesar demais as consequências, Zema tenda adotar postura igualmente combativa. Para isso, empurra também qualquer decisão da Assembleia para esse jogo eleitoral, já que especula-se que o presidente da Casa, Agostinho Patrus (PV) seria candidato a vice na chapa do prefeito de BH. De certa forma, Zema não está errado em imaginar que boa parte das decisões no Legislativo estão relacionadas à corrida eleitoral. Assim funciona a luta política no Brasil, e a própria reação do governador, trocando o figurino de governador pelo de candidato, mostra que, neste caso, tal postura é de todo mundo que está no debate. A guerra está aberta.

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