Política em Análise

O perigo de 2021 para Bolsonaro

Manter a popularidade com o fim do auxílio emergencial é o principal desafio do presidente neste ano

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 04 de janeiro de 2021 | 09:50
 
 
 
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Que o ano de 2021 vai ser de enorme dificuldade para a sociedade brasileira não é preciso falar demais. Em meio a uma pandemia que não cede e com a vacinação para toda a população ainda incerta, as dificuldades, que foram muitas em 2020, tendem a perdurar. Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a tendência é que o ano seja ainda mais complicado.

Em 2020, apesar de todos os desacertos do governo e das polêmicas nas quais se meteu, Bolsonaro manteve popularidade média. Na verdade, quando se compara as pesquisas do Datafolha realizadas em dezembro de 2019 e em dezembro de 2020 nota-se até uma melhora na popularidade. Mas essa análise dos números gerais esconde uma queda forte de Bolsonaro em três das quatro faixas de renda pesquisadas, compensada com boa melhora entre os eleitores que recebem até dois salários-mínimos, a maior do eleitorado.

E é por isso que a aposta geral é a de que o fim do auxílio emergencial tende a deixar o presidente vulnerável a uma queda de popularidade. Dentro dessa faixa de até dois salários-mínimos está o eleitorado sem renda, o mais impactado positivamente pelo auxílio que agora deixa de ser pago. Nessa faixa, os que consideram o governo ótimo ou bom passaram de 22% para 37% em um ano. Já os que avaliam a gestão como ruim ou péssimo passou de 43% para 27%. Agora, com o fim da renda emergencial mesmo com a pandemia em alta, Bolsonaro continuará a ser bem visto por esse grupo?

Para conseguir safar-se de uma queda no apoio, o presidente terá que comunicar bem a esse público uma realidade: as contas públicas não suportam a manutenção do auxílio sem que entrem em colapso. Mas não é só isso: o governo tem que provar que enfrenta de fato o problema da pandemia, acelerando as medidas para que o auxílio não precise mesmo mais ser dado.

A principal medida nesse sentido, evidentemente, é a vacinação em massa da população. Hoje, o Brasil está atrasado em relação ao restante do mundo, mesmo tendo tradição de bons programas de vacinação. O governo Bolsonaro não fez vários acordos por vacina como outros países, apostou suas fichas apenas na imunização desenvolvida em Oxford e, por isso, viu os demais laboratórios priorizarem o registro e distribuição em outros países. Isso tende a prolongar os efeitos da pandemia não apenas na tragédia das mortes mas também na economia, o que provoca dificuldades e fome principalmente nessa parcela do eleitorado que ainda aplaude o presidente.

No campo político, Bolsonaro envolveu-se em uma eleição perigosa no Congresso. Em especial na Câmara. Ao colocar-se frontalmente contra o grupo de Rodrigo Maia, o presidente aposta alto. A disputa hoje está acirrada e, embora Arthur Lira, o candidato do Palácio do Planalto, seja forte, não é possível cravar hoje que ele vai ganhar a disputa. A última vez que uma presidente enfiou-se na disputa da Câmara e perdeu, acabou fora do cargo.

Além do mais, mesmo uma vitória de Arthur Lira não é uma garantia de paz para Bolsonaro. O grupo dele é reconhecido como faminto por cargos e, com problemas judiciais complexos, Lira tende a cobrar apoio em várias frentes e muitos espaços, para continuar apoiando. Engana-se Bolsonaro se acha que o cacique maior do centrão vai contentar-se com o que já te quando tiver mais poder. 2021 promete tensão também por isso.

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