Política em Análise

O que esperar dos atos de 7 de setembro?

Consequências para o presidente dependerão muito mais do caráter do que do tamanho das manifestações

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 06 de setembro de 2021 | 17:02
 
 
 
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Os atos em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com críticas aos demais Poderes serão grandes ao menos em Brasília e em São Paulo. Disso não se deve ter mais qualquer dúvida, considerando o tempo e o tamanho da organização que se montou em torno dessas manifestações. O que ainda divide especialistas e políticos é o efeito que eles provocarão e, principalmente, quais serão as consequências para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Isso depende mais do caráter das manifestações do que propriamente de seu tamanho.

Mais do que em outras mobilizações, as digitais do chefe do Executivo estão impregnadas nos atos do Dia da Independência. Bolsonaro reiterou por diversas vezes o quanto enxergava esses atos como decisivos na disputa que trava com representantes de outros Poderes, sobretudo o Judiciário. E chegou pessoalmente a enviar convocações para que aliados compareçam. Anunciou antecipadamente que vai discursar pela manhã em Brasília e à tarde em São Paulo. É, portanto, o principal organizador da ida às ruas.

E isso é importante pois será na postura dos manifestantes que residirá um pouco das expectativas para o futuro do governo de Jair Bolsonaro. Se os atos, que já se sabe que serão grandes, ocorrem de forma pacífica e dentro da normalidade, Bolsonaro pode utilizá-los muito bem na máquina de propaganda política que vai tentar reabilitá-lo para 2022. É claro que, sobre o tamanho, haverá versões diversas, com bolsonaristas ampliando as estimativas e oposicionistas minimizando, mas a fotografia das ruas pintadas de verde e amarelo será utilizada para avisar aos aliados sobre a fidelidade da parcela da população que continua caminhando com o presidente. Ainda que estatisticamente, o tamanho de qualquer ato num país polarizado seja irrelevante.

Se, por outro lado, o que o país enxergar nas ruas, principalmente em Brasília, for ataques a prédios públicos, tentativas de invasão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e, sobretudo, se isso se der após um discurso inflamado do presidente, a coisa muda de figura. Atores políticos e do Judiciário já avisaram que o presidente será responsabilizado. Nesta hipótese, tanto uma possível inelegibilidade no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto um hoje descartado pedido de impeachment na Câmara dos Deputados voltam ao debate. Bolsonaro será sócio do sucesso dos atos, que em número já está praticamente garantido, ou do fracasso, que será medido pelo caráter da mobilização.

Do lado dos contrários ao presidente, é esperado que as manifestações sejam menores. Não houve mobilização e a oposição continua dividida. Grupos à esquerda vão se manifestar neste dia 7, enquanto os adversários na própria direita marcaram seus protestos para o dia 12. Centrais sindicais e MBL não se misturam. Assim, dividem a força dos atos. É mais uma boa notícia de véspera para o presidente.

Mas mesmo que vença a batalha das ruas, há ainda outro problema que Bolsonaro terá que cuidar de resolver imediatamente após o fim da manifestação de 7 de setembro. O que fará no dia seguinte? Depois que seus aliados forem para as ruas exigir mudanças de comportamento por parte de integrantes do Judiciário e, eventualmente, do Congresso, o que fará o presidente? Continuará com a sua batalha institucional? Convocará novos atos? Qual será o próximo passo? Se eventuais consequências a Bolsonaro podem ser vistas concretamente, o que haverá de consequências para os demais Poderes? Não havendo ruptura, as mobilizações só serviriam como peça eleitoral. Até lá, porém, há mais de um ano de governo pela frente que, sem paz entre os poderes, não tem qualquer chance de produzir resultado positivo.

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