Política em Análise

Pacheco desiste e Leite se apresenta

Presidente do Congresso saiu da disputa sem nunca ter entrado e governador do Distrito Federal tem missão de garantir 'candidatura para valer'

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 10 de março de 2022 | 11:46
 
 
 
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Não se pode dizer que foi uma surpresa o anúncio de Rodrigo Pacheco (PSD) de que não será candidato à Presidência da República. O discurso em que faz esse comunicado, na noite de quarta-feira (9), apenas oficializou o que o presidente do Congresso já externalizava. Pacheco nunca se dedicou de fato à candidatura, nunca tentou fazer com que ela fosse de fato real. Sua saída nem sequer deixa traumas para ele ou para o partido. Surge dela uma oportunidade de dar espaço ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que, ao contrário de Pacheco, quer muito mais e já deixou claro que lutará até o fim para disputar a Presidência da República.

Eis aí uma grande diferença entre um e outro. Pacheco nunca refletiu o entusiasmo que o presidente da legenda, Gilberto Kassab, demonstrava quando falava seu nome. Ao longo do processo eleitoral, nem sequer buscou abrir suas redes sociais para que pudesse ser compartilhado, mais conhecido e comentado. Manteve-se focado nos assuntos do Senado e, em entrevistas, sempre driblou as respostas sobre ser candidato. De fato, apesar de ter sido lançado informalmente nos eventos do PSD sem que tenha rejeitado de pronto a tarefa, nunca foi de fato um candidato. Apesar de ter feito discurso com projeto de candidato, não avançou em tratativas, não buscou viabilizar alianças, não se colocou nos principais debates do país. Definitivamente, só ocupou o espaço de candidato que, convenientemente, o PSD precisava ter até aqui para reduzir um pouco as especulações sobre uma adesão a Lula ou a Bolsonaro.

Para obter uma saída honrosa, Pacheco argumentou sobre sua responsabilidade como presidente do Senado. Afirmou que, pelo momento vivido pelo país, não poderia contribuir para uma confusão entre os temas colocados no Congresso e a disputa eleitoral. Embora não seja esse o motivo para a desistência, é também um fato. Há muitos temas complexos, polêmicos e difíceis no Senado, sobretudo temas aprovados sem discussão correta na Câmara. O pior que poderia haver é uma contaminação entre campanha e debate legislativo. Por mais que seja inevitável, não vindo das mãos do presidente da Casa, como estamos vendo entre os deputados, há aí uma contribuição importante.

Se Pacheco nunca foi realmente candidato, sua saída merece ser olhada muito mais pelo que representa daqui em diante. E o futuro no PSD, ao menos em 2022, passa por Eduardo Leite, que deve mesmo se filiar à legenda para renascer na disputa presidencial, após a derrota nas prévias do PSDB para João Doria.

Além de ter muito mais ambição de ser candidato neste momento, Leite, em razão da baixa rejeição que apresenta - bem menor que a de Pacheco - tem capacidade de debater alianças com outros pré-candidatos, de modo a construir uma candidatura razoavelmente competitiva. Conversas com o União Brasil e o MDB, por exemplo, tendem a ocorrer. Ele é bem visto externamente, embora dentro do PSD certamente tenha que enfrentar o descaso de aliados de Lula, sobretudo, e de Bolsonaro. Isso, aliado à necessidade de o PSD fazer composições regionais para se viabilizar, como se vê na conversa de Lula com o candidato ao governo de Minas, Alexandre Kalil, colocam obstáculos para a viabilização plena do governador do Rio Grande do Sul como nome da terceira via. Com os rivais patinando nas pesquisas, porém, essa opção continua aberta.

Já do ponto de vista de Kassab, como já dito aqui, a manutenção de uma candidatura, ainda que não fosse para valer, resolve o problema de evitar o esfacelamento da legenda composta por aliados e opositores do governo. Ao empurrar para o segundo turno o apoio a Lula, Kassab tende alinhavar uma negociação com uma bancada já eleita e com a exigência da manutenção de Pacheco no comando do Senado. É só por isso que Eduardo Leite será candidato. Ele quer e o PSD precisa.

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