Política em Análise

Perigosa desconfiança

População rejeita instituições e isso abre caminho para futuros arroubos autoritários

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 22 de setembro de 2021 | 10:14
 
 
 
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Há muito mais do que um jogo eleitoral para 2022 sendo travado. No Brasil, a disputa de narrativa e a guerra que coloca o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de um lado e outras instituições de outro tem contornos que são mais sérios e duradouros. As primeiras consequências dessa batalha estão expostas em resultados divulgados nesta quarta-feira (22) na pesquisa DATATEMPO. Paralelamente à péssima avaliação que o brasileiro faz sobre o trabalho do presidente da República, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF) também são mal avaliados. Partidos mais ainda. E isso traz cada vez mais o risco de apoio a medidas autoritárias.

Pouca gente escapa da briga na lama que tomou o debate político brasileiro. Congresso, STF e presidência, por exemplo, possuem avaliações negativas maiores do que as positivas. Os meios de comunicação ainda possuem mais confiança do que desconfiança da população. Mas é quase um empate (41,9% x 39,5%). A situação já foi bem melhor e piorou profundamente com os atritos da base bolsonarista com os principais veículos do país. Da mesma forma, as Forças Armadas hoje continuam com a confiança da maioria da população. É a instituição mais bem avaliada entre as testadas. Contudo, se olharmos dados de pesquisas e estudos do Latin American Public Opinion em períodos anteriores - ainda que não sejam exatamente comparáveis por serem projetos diferentes - dá pra ver que também houve perda com a vinculação a um projeto de governo.

O processo eleitoral brasileiro ainda resiste aos ataques, mas já há 39,3% que desconfiam dele. Esse dado é ainda mais preocupante quando, em outro ponto da pesquisa, há uma maioria da população que diz que a fraude nas eleições justificaria um golpe de Estado (mais detalhes serão divulgados ao longo do dia). É aterrorizante, ainda que em outro questionamento os eleitores rejeitem o fechamento do Congresso ou do Supremo Tribunal Federal (STF).

Devemos nos preparar para conviver cada vez mais com as ameaças à democracia. O que está sendo plantado hoje não se colherá apenas em 2022. A fragilização das instituições permanecerá e, mais adiante, pode ser utilizada por um líder popular para perpetuar-se no poder com o aniquilamento dos freios e contrapesos. Bolsonaro não poderá fazer isso pois sua rejeição junto à população é ainda maior do que as dessas instituições. Mas outros populistas virão. Eles sempre vêm. Na esquerda e na direita. Se a desconfiança nas instituições perdurar, o primeiro que tiver apoio popular vai dar o bote sobre a democracia. E aí os que ajudaram a destruir o arcabouço democrático, seja dando apoio ou simplesmente fechando os olhos, vão se arrepender tarde demais.

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