Afastado dos holofotes desde que foi apanhado em delações da operação Lava Jato, o deputado federal Aécio Neves continua dando as cartas no PSDB. Foi o que mostrou o resultado da votação de ontem na Executiva do partido. O resultado de 30 a 4, que rejeitou a primeira tentativa de expulsão do ex-governador de Minas Gerais da legenda, mostrou que a sigla está disposta a sacrificar um pouco da imagem para salvar aquele que já foi um de seus maiores expoentes públicos no passado recente.
Com o resultado, Aécio impôs a João Doria uma derrota que o governador de São Paulo ainda não havia tido em todos os embates anteriores com antigos caciques da legenda. Mostrou que, mesmo fragilizado, ainda tem mais capacidade de articulação do que tiveram Geraldo Alckmin e José Serra nas disputas que sacramentaram uma nova hegemonia de poder na legenda em São Paulo.
A decisão dos tucanos respeitou de forma literal o que dizem as regras da legenda. Optou-se por manter o deputado nos quadros por não haver condenação nos processos a que ele responde. Mas, embora tecnicamente compreensível, a decisão tende a trazer dissabores para quem quer disputar eleições pela legenda no ano que vem.
Vejam o caso de Luísa Barreto, apresentada como pré-candidata do partido à Prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem, em uma tentativa de oxigenar a legenda e mostrar um PSDB mais moderno. Carregar o fato de Aécio continuar sendo um nome forte em sua legenda, considerando a difícil situação do deputado junto à opinião pública, tende a ser uma enorme dificuldade. Arrisco a dizer que é quase insuperável.
Já para Doria a presença de Aécio, embora seja um incômodo, pode ser menos problemática justamente pelo posicionamento do governador. E isso explica o fato de o paulista ter insistido em levar adiante o processo de cassação mesmo sabendo que sairia derrotado. Doria, homem do marketing que é, preferiu se passar por fraco, mas adversário, do que por forte mas aliado de Aécio.