É inegável que a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro, com uma sensível queda de popularidade nos últimos dias, aumentou. E que seus opositores, à esquerda, principalmente, mas também à direita, arregaçaram as mangas para pedir um impeachment. A chance de que isso aconteça, porém, é pequena. O problema maior para Bolsonaro é mais adiante, nas eleições de 2022.
As carreatas realizadas no fim de semana não são um fato isolado. Os pedidos de impeachment são de fato discutidos em rodinhas de conversa de políticos em Brasília, em entidades empresariais e até mesmo dentro do governo. No entanto, entre os aliados do Palácio do Planalto, há no máximo uma observação e a criação de um plano de ação para diminuir a temperatura da fervura. Ninguém acredita, hoje, que o assunto vai de fato levar à queda do presidente.
A pressão pelo impeachment voltou após o caos em Manaus, a aceleração da pandemia, a errática postura em torno do plano de imunização e da chegada da vacina, e o agravamento da crise econômica com o fim do auxílio emergencial enquanto as restrições a atividades comerciais continuam espalhadas pelo Brasil. Isso foi sentido claramente nas pesquisas de opinião. Três institutos diferentes já mostraram a queda de popularidade nesse início de ano e o principal motivo para essa queda foi o fato de o apoio ao governo ter despencado no Norte do país.
Porém, ainda que essa queda de popularidade uma sinalização preocupante para o governo, a aposta no impeachment divide o país. Enquanto o Datafolha afirma que 53% rejeitam a ideia, o Atlas Político calculou no mesmo percentual os que apoiam a iniciativa. Independentemente de que esteja certo, essa divisão inviabilizaria completamente uma pressão efetiva em torno dos parlamentares para acelerar a queda do presidente.
E, sem pressão, o cenário que hoje é de conforto para o governo em relação a esse assunto não mudaria. Bolsonaro tem seus candidatos como favoritos hoje nas disputas pelo comando das duas Casas e, mesmo que por acidente de percurso, perca alguma delas, tem uma blindagem suficiente no núcleo dos partidos de centro para tocar o barco até o fim do mandato. E é bom lembrar que a cada dia que passa a eleição fica mais perto e, com isso, a pressão diminui.
Além do mais, qualquer processo de impeachment passa pelo posicionamento do vice no cenário político. Ao contrário de Michel Temer e de Itamar Franco, Mourão não faz qualquer movimento. Acomoda-se tranquilamente na cadeira, dando alguns pitacos, mas sem articular ou mostrar-se viável.
O cenário mais provável hoje é que Bolsonaro perca ainda mais popularidade até meados de fevereiro ou março, com o agravamento da pandemia e de seus efeitos econômicos, precise se movimentar em uma reforma ministerial para garantir segurança à gestão, mas, com o tempo, a fervura diminua, com a ampliação da vacinação, as perspectivas para o fim dessa crise e a aproximação das eleições. Assim, tende a concluir seus quatro anos de mandato mesmo aos trancos e barrancos.
Não se pode dizer o mesmo sobre a tranquilidade do presidente com relação à reeleição. Em entrevistas recentes de Bolsonaro e do vice Mourão recentemente já deixou-se escapar um certo pessimismo ou preocupação no ar. A aprovação de Bolsonaro não é baixa o suficiente para um impeachment. Mas é ruim se comparada a outros governantes neste momento do governo. Claro que o presidente é candidato forte para ir a um segundo turno, mas é cada vez mais provável que perca a parcela que lhe garantiu a vitória até tranquila no segundo turno de 2018. Hoje, 20% dos que votaram em Bolsonaro querem o impeachment. Não é suficiente para derrubá-lo, mas pode ser fundamental para uma virada na corrida de 2022. Resta saber se os opositores saberão como lidar com isso ou se vão meter os pés pelas mãos.