Política em Análise

Primeiro ou segundo turno?

Voto útil, voto envergonhado e abstenções definirão futuro das eleições no domingo

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 27 de setembro de 2022 | 13:04
 
 
 
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Faltando cinco dias para a ida às urnas, o grande debate nas eleições presidenciais no Brasil é se teremos um ou dois turnos no confronto entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Se há algumas semanas a chance de que o petista liquidasse a disputa em apenas uma rodada tinha ficado distante, e até falei sobre isso aqui, os últimos levantamentos têm indicado uma leve brisa a favor do ex-presidente. A vitória em primeiro turno voltou a se tornar possível e é medida pelos institutos na margem de erro. Mas responder com exatidão o que vai acontecer não é possível sem que inclua uma boa dose de chute. Três fatores, de agora em diante, pesarão para definir o resultado do próximo domingo.

O primeiro fator pesa a favor do candidato da esquerda: a pressão que sua militância, impulsionada pelo antibolsonarismo, faz sobre os eleitores dos demais candidatos. O chamado “voto útil”, pregado pelos aliados de Lula, costuma desidratar quem está com menos chance na reta final das campanhas. Foi assim nas últimas corridas eleitorais. E pode acontecer de novo, sobretudo se, faltando dois ou três dias para as eleições, o cenário for o mesmo de hoje. Nesse caso, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) correm grande risco de perder ainda mais fôlego na chegada às urnas. Se olharmos para 2018, foi exatamente isso que aconteceu com Geraldo Alckmin e Marina Silva, por exemplo. Não aconteceu em grau tão alto com Ciro justamente pois ele também trabalhava o voto útil argumentando que era um candidato mais viável no segundo turno do que Haddad. Naquela ocasião, a distância não era tão grande e seus eleitores enxergavam, sim, a possibilidade de que ele avançasse. Agora é bem diferente.

Mas, ainda sobre voto útil, a pressão não garante essa migração. Há, inclusive, perigos nessa estratégia. Quando essa pressão é feita de forma exagerada, pode ter efeito contrário. Além de não convencer eleitores a migrar para Lula no primeiro turno, pode fazer com que lhe virem as costas no segundo. Ninguém gosta de ter seus votos ridicularizados. Isso tem acontecido, sobretudo com os eleitores de Ciro. Aí reside um foco de atenção para o PT.

O segundo fator a ser considerado, cujo impacto só saberemos no domingo, é a abstenção. Geralmente, a ausência nas urnas é maior entre os mais pobres, justamente a faixa que dá sustentação ao ex-presidente nas pesquisas. Nos lugares em que chover, então, essa distância entre o comparecimento dos mais ricos e o dos mais pobres tende a ser muito maior. E, aí, de nada adiantaria ganhar mais fôlego entre os outros candidatos. Se olharmos as pesquisas dos anos anteriores, veremos que, com exceção da atípica eleição de 2018, os primeiros colocados, sempre sustentados pelos mais pobres, aparecem nas urnas com menos votos do que tinham nas pesquisas. Se isso acontecer, Lula pode se ver na condição de ter menos de 50% dos votos válidos, ainda que nos institutos mais tradicionais apareça com um pouco mais que isso hoje.

Um terceiro fator, ainda mais difícil medir, é o do chamado voto envergonhado, o que traria  a remota possibilidade de as pesquisas de quase todos os institutos estarem erradas. Neste caso, significaria dizer que parte dos eleitores, embora tenha uma preferência, não a manifesta nas pesquisas por alguma razão, que pode ser desde o medo da violência política ou o constrangimento de se colocar em posição diversa daqueles que o cercam e que são mais barulhentos. É difícil saber o impacto do voto envergonhado. Hoje, porém, é improvável que isso esteja acontecendo entre os bolsonaristas, que são muito mais ativos nas redes e nas atividades públicas. Estudos conduzidos por alguns institutos de pesquisa indicam que o voto envergonhado, ao contrário, está concentrado entre os lulistas, o que pode significar que o petista tenderia a aparecer, nas urnas, com mais votos do que tem hoje. Mas isso, claro, só saberemos na noite de 2 de outubro.

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