Além de ceifar vidas, colocar em risco o sistema de saúde do país e afetar duramente a economia no curto prazo, a pandemia do coronavírus também implicará no adiamento de discussões importantes sobre a reforma do Estado brasileiro. Questões que estão há décadas em debate e que, antes de tudo isso começar, pareciam caminhar para uma solução ao longo dos próximos meses.
Falo, principalmente, dos debates sobre as reformas tributária e administrativa e o tratado sobre um novo pacto federativo. Questões que o Congresso discutiria em 2020 e que, pelo visto, talvez não consiga debater nem mesmo no ano que vem.
O fato é que, neste momento, não há qualquer possibilidade de assuntos de tamanha complexidade serem tratados. O Congresso nem sequer tem conseguido se reunir e o debate das reformas exige uma interação forte. Muitas audiências públicas, acordos em diversos níveis. Diante da gravidade da situação que enfrentamos, o governo, que já não fazia esforço para acelerar o envio de sua proposta de reforma tributária, ficou ainda mais inerte. O mesmo vale para a reforma administrativa.
Em meio à necessidade de tratar desses assuntos, teremos que discutir o futuro das eleições de 2020. Se haverá ou não, se vai ser adiada. Isso ocupará o Congresso por um tempo. Se as eleições forem ocorrer na data prevista, a partir do segundo semestre as votações estarão inviabilizadas também pela campanha.
Mas não vai parar por aí. Assim que a pandemia der uma trégua, o Congresso começará um longo debate sobre o futuro do governo Jair Bolsonaro. Há debates sobre impeachment, denúncia, renúncia ou enfraquecimento. Isso torna qualquer governo incapaz de levar sua agenda adiante. Assim se deu com Dilma e assim se deu também com Michel Temer, que precisou gastar energia e emendas para manter seu cargo até o fim, pouco tempo depois de enviar a reforma da Previdência à Câmara. Vejo cenário semelhante. Todo o resto vai esperar.