A estratégia de forte viés ideológico utilizada pelo atual governo brasileiro na relação com os demais países pode levar a um isolamento gradual do Brasil no cenário mundial.  Para isso, basta que políticos de direita hoje no poder em outras nações comecem a perder espaço.

O caso da Argentina é bastante exemplificativo. Após as primárias realizadas no domingo, a vitória da chapa kirchnerista no país vizinho tornou-se bastante provável. Para não dizer quase inevitável. O que fez o presidente Bolsonaro? Desancou a possibilidade, disse que não quer argentinos fugindo para o Brasil e chamou os favoritos para aquela disputa de “esquerdalha”.

Não que se esperasse que Bolsonaro fosse alinhado à esquerda argentina. Não é isso. Mas seria mais inteligente, diante da iminente vitória, tentar evitar um conflito tão aberto, que pode comprometer profundamente a relação futura com um país que é importante parceiro comercial.

Enquanto a esquerda avança na Argentina, a direita representada pelo presidente Mario Abdo sofre no Paraguai. Sob o risco de impeachment, o aliado de Bolsonaro pode ser apeado do poder nas próximas semanas. Como o Uruguai já está nas mãos da esquerda, o risco de o Brasil ficar isolado no Mercosul é visível.

Curioso é que o presidente até ameaça deixar o bloco se Mauricio Macri for derrotado na Argentina. Isso depois de comemorar um acordo comercial com a União Europeia. Acordo, por sinal, que corre risco justamente por conta da política internacional raivosa do atual governo, que tem brigado com os europeus nas questões ambientais, no momento em que precisa da aprovação de cada um daqueles países para a validade efetiva do acordo. 

A política internacional de Bolsonaro, que consegue ser mais ideológica que a praticada pelo PT, aposta na forte aliança com Donald Trump. Mas o presidente não percebe que o próprio Trump corre o risco de deixar o cenário no ano que vem, quando enfrentará uma eleição duríssima.