Política em Análise

Risco para Ciro aumenta

Com chance de Lula ser eleito no primeiro turno, migração de votos e episódios como os de Duda Salabert e Miguel Corrêa podem se tornar mais frequentes

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 30 de maio de 2022 | 11:24
 
 
 
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Resistente até aqui como único candidato fora da polarização entre Lula e Bolsonaro que consegue manter um percentual razoável de votos, beirando ali os dois dígitos em alguns levantamentos, o pedetista Ciro Gomes tende a enfrentar, de agora em diante, o momento mais desafiador de sua campanha. Com alguns levantamentos sugerindo que o petista pode vencer a batalha no primeiro turno, a pressão e a certeza de voto dos eleitores do ex-governador do Ceará será testada e episódios como os que vimos em Minas Gerais, com Miguel Corrêa e Duda Salabert, devem se tornar mais frequentes. Principalmente pelo fato de que, como eu disse aqui, podem ser os ciristas os responsáveis por definir as eleições.

Nesses dois casos que cito, ambos de pré-candidatos do PDT a cargos nas próximas eleições, fica visível que parte daqueles que estão hoje votando em Lula nutrem simpatia suficiente por Lula para fazê-los pular o muro na reta final se enxergarem reais chances de uma derrota de Bolsonaro. E é o que Ciro tenta evitar a todo custo. Tanto Miguel, que disse que seria uma vitória para Ciro ter Lula no Palácio do Planalto, como Duda Salabert, que fez o ‘L’ com as mãos para eleitores do petista, dizem que continuam votando no governador do Ceará. Mas se mesmo filiados e pré-candidatos fazem demonstrações públicas de apreço pelo lulismo, o que se pode esperar do comportamento de uma boa parcela dos eleitores que dizem que seus votos ainda não estão totalmente definidos?

A pesquisa Datafolha divulgada na última semana, e outros levantamentos revelados desde então, indicam que Lula pode estar subindo e que o eleitor de Ciro pode sim mudar de lado, sob o velho argumento do voto útil, o mesmo que o pedetista usou em 2018 para manter um percentual relevante de 12% mesmo sob o derretimento dos demais candidatos que se contrapunham à batalha entre Bolsonaro e Fernando Haddad. 

Agora, o cenário para Ciro é bem diferente daquele de quatro anos atrás. Como é Lula quem lidera as pesquisas, o pedetista teria que, ao contrário do que fez naquela ocasião, convencer o eleitorado bolsonarista que, para evitar uma vitória do PT, seria melhor migrar para sua candidatura. E esse desafio é complexo por vários motivos. O primeiro é que as pesquisas não indicam que Ciro possa vencer Lula. O segundo é que, ainda que o pedetista conseguisse trabalhar essa ideia com base em sua rejeição, menor que a de Lula e a de Bolsonaro, parte do eleitor do atual presidente nem acredita nesses levantamentos. O terceiro é que as ideias de país e sobretudo a pauta econômica de Ciro diferem profundamente da de Bolsonaro, colocando-se à esquerda até mesmo da de Lula.

Isso não significa que Ciro vá ser rifado oficialmente pelo PDT e nem que vai retirar sua candidatura. Como também já disse aqui, ele trabalha também com os olhos para 2026. Seus ataques duros e frontais a Lula conversam com a ideia de que ele vai tentar liderar um processo de oposição ao petista se o ex-presidente for eleito. E, por essa razão, também já disse aqui que não faz muito sentido para Lula e para os petistas redobrarem ataques a Ciro. Quem pode precisar dos votos dele, no primeiro ou no segundo turno, é Lula, e não o contrário. E esse confronto só atrapalharia essa possível migração natural de votos que poderia haver a cada nova pesquisa que reforçar a polarização.

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