Ainda é cedo para tirar conclusões sobre a operação que levou agentes da Polícia Federal à casa do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Porém, desde que a notícia da ação veio à tona, já foi possível perceber um efeito danoso da interferência clara na corporação feita pelo presidente Jair Bolsonaro. Ao trocar o delegado geral da PF e o superintendente da polícia no Rio, o Palácio do Planalto acabou colocando a credibilidade do órgão de investigação em xeque. Não fosse isso, estariam hoje todos discutindo apenas as implicações do caso para o chefe do Executivo fluminense.
Antes de qualquer coisa é bom lembrar que o histórico não deixa dúvida de que o crime organizado está impregnado na máquina pública do Rio de Janeiro há tempos. Isso já levou para a cadeira Rosinha e Anthony Garotinho, Sergio Cabral e Luiz Fernando Pezão, por exemplo. No próprio governo de Witzel já há diversas denúncias de corrupção. E uma delação premiada na Procuradoria Geral da República (PGR) promete implodir seu governo. Dito isso, é claro que fica visível a necessidade de que os assuntos ora em questão – possível desvio na construção de hospitais de campanha – precisam ser investigados. A PGR, comandada por Augusto Aras, indicado por Bolsonaro fora da lista tríplice da associação de procuradores, diz que são apurados os crimes contra a lei de licitações, de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A grande questão, porém, é que, ao trocar o comando da PF no Brasil e no Rio, o presidente deu a Wilson Witzel a defesa que ele queria. O governador do Rio vai dizer que está sendo perseguido, e assim se dará com todos os outros, adversários de Jair Bolsonaro, e que possam entrar na mira da PF depois das trocas da corporação.
E, para completar o enredo, a deputada federal Carla Zambelli, que encarna o bolsonarismo como ninguém no Congresso e nas redes sociais ainda disse, em entrevista à rádio Gaúcha, um dia antes da operação, que haveria ações contra os governadores relacionadas a possíveis desvios ligados à pandemia do coronavírus. No mínimo, gerou suspeitas de que a parlamentar tenha recebido informações privilegiadas da Polícia Federal. O mesmo fizeram outros parlamentares bolsonaristas no Rio nos últimos dias, que postarem mensagens que indicavam essa operação.
O que vai importar, agora, é a qualidade das provas que embasaram os pedidos de buscas e os resultados delas. A partir daí, será possível avaliar se a operação complica a vida de Wilson Witzel, podendo levá-lo até mesmo à queda, ou se vão apenas reforçar a tese de interferência na PF, dando mais trabalho para o presidente da República no embate político. Uma coisa é certa: a guerra entre Bolsonaro e Witzel vai esquentar de vez.