POLÍTICA

Sobrenomes que se perpetuam no poder

Diante da falta de interesse ou participação dos eleitores, famílias tradicionais mantêm-se há décadas no meio político

Por MARINA SCHETTINI
Publicado em 03 de fevereiro de 2008 | 18:49
 
 
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Neves, Andrada, Menicucci, Bias Fortes, Varella, Quintão, Braz. São tantos sobrenomes quanto a vontade de se perpetuar no poder. De geração em geração, aqueles que têm a política no sangue se mantêm em prefeituras, câmaras municipais e cargos de indicação ou de confiança das diversas instâncias do poder público. Eles têm a força do sobrenome e o passado a seu favor e contam, muitas vezes, com a falta de informação dos eleitores ou com o desinteresse popular para manter costumes que, aos poucos, perdem força em todo o país.

Uma das mais tradicionais - e ainda hoje presente no poder -, a família Andrada está em cargos públicos desde a independência do Brasil. A última geração detém a Prefeitura de Barbacena, no Campo das Vertentes, comandada por Martim Andrada (PSDB), uma cadeira na Assembléia Legislativa estadual, com o deputado e candidato à Prefeitura de Juiz de Fora, na Zona da Mata, Lafayette de Andrada (PSDB), uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ocupada por Antônio Andrada, e o cargo de advogado geral do Estado, com Bonifácio de Andrada.

Além disso, o pai, Bonifácio de Andrada, está em seu oitavo mandato como deputado federal e já foi vereador, deputado estadual e secretário de Estado. O avô, José Bonifácio de Andrada, que faleceu recentemente, foi vereador e deputado estadual por seis mandatos consecutivos. Além deles, um outro membro da família, Doorgal Borges de Andrade, é ex-presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis) e atual vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

"A minha família está no parlamento desde a independência. Desde 1822 sempre houve pelo menos um Andrada no parlamento. Já tivemos até cinco representantes ao mesmo tempo no parlamento nacional. Acabou se transformando em algo natural", afirma Lafayette de Andrada.

Além dos Andrada, Barbacena também é palco da perpetuação de outra família - os Bias Fortes. Protagonistas de históricas disputas pelo poder com os Andrada, os Bias Fortes sempre representaram importante força política, mas que já não ostentam, hoje, a mesma influência de outras épocas.

Pai da atual pré-candidata à prefeitura da cidade, Danuza (PMDB), e filho do ex-governador José Francisco, Chrispim Jacques, o Biazinho foi um dos últimos da família a ter um cargo de destaque na política. Ele foi deputado federal e ocupou a Secretaria de Estado de Segurança Pública.

"A briga aconteceu nos anos 30 e foi até os anos 60; hoje é folclore. Na segunda e terceira gerações isso é diluído, mesmo porque os mais velhos das duas famílias se casaram com duas irmãs, de forma que a segunda geração é de primos de primeiro grau. Além disso eles (os Bias) ficaram quase 20 anos sem nenhum candidato e o que dá calor à briga é a disputa eleitoral", justifica Lafayette de Andrada.

Especialistas explicam que a perpetuação de famílias como a dos Andrada é ainda fruto da falta de participação. "É um fenômeno presente em todo o Brasil, mas podemos perceber que quanto maior o nível de escolaridade das pessoas, de participação e informação da sociedade civil, menos isso acontece. Ocorre também com menos freqüência nos grandes centros porque as pessoas têm mais acesso à informação e, por isso, mais consciência política", explica o professor da PUC Minas, José Luiz Quadro Magalhães.

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