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Tabata repreendeu Monark, enquanto Kim defendeu descriminalização do nazismo

Convidados pelo apresentador Monark para participar de podcast, deputados tiveram reações diferentes sobre declarações que provocaram onda de indignação

Por Renato Alves
Publicado em 08 de fevereiro de 2022 | 14:33
 
 
 
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Em debate com a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) na noite de segunda-feira (7), o apresentador do Flow Podcast, Monark (nome artístico de Bruno Aiub), defendeu a formalização de um partido nazista junto à Justiça Eleitoral brasileira, contrariando princípios básicos da Constituição, como a promoção do “bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

“Eu acho que a esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical. Eu acho que as duas tinham que ter espaço. Eu acho que o nazista tinha que ter um partido político reconhecido pela lei”, declarou Monark, que foi além. “Se o cara quiser ser antijudeu, eu acho que ele deveria ter o direito de ser.” 

Segundo o podcaster, esse posicionamento seria restrito a uma questão de "ideais" e não estaria relacionado à vida ou à morte de judeus. Respondendo à deputada, que criticou o ato de questionar a existência de alguém, Monark insistiu: “questionar é sempre válido”.

O Flow é um dos podcasts com maior audiência do Brasil e tem 3,6 milhões de inscritos só no YouTube. Ele foi criado por Monark e por Igor Coelho (Igor 3K). O podcast vem ganhando destaque no cenário político ao trazer pré-candidatos às eleições de 2022. Sérgio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT) participaram recentemente do programa. Mas o Flow já perdeu patrocinadores e Monark foi muito criticado após questionar no Twitter se “ter opinião racista é crime” em 2021.

Além de Tabata, o programa também recebia o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP). Durante uma discussão sobre regimes radicais de direita e esquerda, o anfitrião do podcast saiu em defesa do “direito” de ser antissemita. “Eu acho que tinha de ter o partido nazista reconhecido pela lei”, afirmou ao microfone.

Tabata disse a Monark que declarações eram ‘esdrúxulas’

Tabata Amaral rebateu as afirmações “esdrúxulas” de Monark, citando o holocausto na Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, quando mais de 6 milhões de judeus foram exterminados. Ela afirmou ainda que o nazismo coloca a população judaica em risco. “Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco coloca a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco”, disse a parlamentar.

Na sequência, Monark perguntou à deputada como o nazismo coloca os judeus em risco. “De que forma [isso acontece]? Quando [o nazismo] é uma minoria, não põe. Mas era [um risco] quando era uma maioria”, emendou o influenciador digital.

"A comunidade judaica até hoje tem que se preocupar com sua segurança porque recebe ameaças. O antissemitismo é uma coisa que tem ser combatida todos os dias", respondeu Tabata.

Kim disse que partidos comunistas também não poderiam existir

Já Kataguiri Kataguiri entrou na discussão usando uma suposta fala de um integrante do Partido da Causa Operária (PCO) para argumentar, de maneira superficial, que os partidos com bandeiras ideológicas comunistas também não poderiam existir devido a declarações que poderiam violar os direitos humanos. 

O parlamentar, que em 2018 apoiou o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições e depois rompeu com o bolsonarismo, não detalhou sobre as circunstâncias envolvendo a suposta declaração do integrante partidário. “Quando o Rui Costa, do PCO, fala em fuzilar burguês, por exemplo, aquilo está contemplado pela liberdade de expressão. Pelo menos no entendimento de hoje”, disse.

O deputado paulista ainda queixou-se porque, segundo ele, defensores do comunismo teriam mais espaço na mídia do que defensores do nazismo. Ponderando sobre a existência do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Kim afirmou: “a gente não tem um partido formal fascista ou nazista com espaço no Parlamento e na imprensa”.

Kim Kataguiri, que está prestes a deixar o DEM e se filiar ao Podemos, disse ainda achar um erro a criminalização do nazismo na Alemanha.

“O que eu defendo é que, por mais absurdo, idiota, antidemocrático, bizarro, tosco que [seja] o [que o] sujeito defenda, isso não deve ser crime. Por quê? Porque a melhor maneira de você reprimir uma ideia antidemocrática, tosca, bizarra, discriminatória é você dando luz àquela ideia, para que aquela ideia seja rechaçada socialmente e, então, [seja] socialmente rejeitada.”

Kim diz que fala foi distorcida e Monark diz que estava bêbado

No entanto, diante da péssima repercussão do programa, Kim Kataguiri foi às redes sociais na manhã desta terça-feira (8) para dizer que sua declaração foi distorcida.

“O que eu realmente disse sobre o nazismo: muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados”, escreveu o parlamentar.

Já Monark pediu desculpas, na tarde desta terça-feira, e alegou que estava “muito bêbado”. Ele admitiu que “foi insensível” com a comunidade judaica, mas pediu “compreensão”.

“Queria fazer esse vídeo para só pedir desculpa mesmo, porque eu errei, a verdade é essa. Eu estava muito bêbado e eu fui defender uma ideia acontece em alguns em outros lugares do mundo, no nos Estados Unidos por exemplo. Mas eu fui defender essa ideia de um jeito muito burro eu estava bêbado eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica e eu peço perdão”, explicou. “Mas peço também compreensão. São quatro horas de conversa, eu estava bêbado”, completou. 

Constituição brasileira veda apologia ao nazismo

A veiculação de símbolos, ornamentos, emblemas, distintivos ou propaganda relacionados ao nazismo é crime previsto em lei federal e descrito na Constituição como inafiançável e imprescritível.

O grupo Judeus pela Democracia foi às redes sociais nesta terça-feira (8) se manifestar sobre as declarações do apresentador. A entidade classificou a resposta de Tabata como “perfeita” e criticou o argumento sobre a “liberdade de expressão” sem limites. “Ideologias que visam a eliminação de outros têm que ser proibidas. Racismo e perseguições a quaisquer identidades não são liberdade de expressão”, diz o grupo.

A Confederação Israelita do Brasil e a Federação Israelita de São Paulo também repudiaram os comentários de Monark.

“A Conib (Confederação Israelita do Brasil) condena de forma veeemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o “direito de ser antijudeu”, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera 'inferiores'”, diz uma das notas.

Já a Federação Israelita Paulista descreveu como “absolutamente inaceitável” a manifestação de Monark.

“Nós, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, repudiamos de forma veemente esse discurso e reiteramos nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria”.

Internautas cobram fim de patrocínios

Também cresce nas redes sociais a pressão para que patrocinadores do podcast retirem recursos do programa. O Judeus pelo Brasil cobrou que o grupo Sleeping Giants tome a frente da mobilização para que as empresas que apoiam o programa encerrem os contratos.

Citado nas redes como patrocinador do canal, o iFood informou em nota que, desde novembro de 2021, não mantém mais relação comercial com o Flow. A decisão de encerrar o patrocínio do podcast Flow foi tomada de forma definitiva após Monark ter questionado em seu Twitter no final de outubro: “Ter uma opinião racista é crime?”.

A Puma também foi citada por usuários de ser patrocinadora do canal, mas afirmou em nota que somente fez uma ação pontual. “Já havíamos pedido para nosso logo ser retirado como patrocinadores do programa e reforçamos isso mais uma vez”, disse.

A Mondeléz Brasil, detentora da marca BIS, também soltou posicionamento: “A empresa esclarece que patrocinou pontualmente apenas dois episódios do Flow Podcast veiculados em 2021 e que não tem contrato com o canal”.

Rompimento de contrato transmissão do Campeonato Carioca

A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) anunciou o rompimento do contrato de transmissão do Campeonato Carioca com os Estúdios Flow. As transmissões de jogos começaram nesta edição do campeonato. 

“A FERJ, defensora da igualdade, do respeito e contrária a qualquer tipo de preconceito, anuncia o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, responsável pelo podcast Flow Sport Club que transmitia jogos do Campeonato Carioca de 2022, por apologia ao nazismo, regime cujos crimes contra a humanidade até os dias de hoje causam horror a qualquer um que preze pela vida”, concluiu. 

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