A decisão do governador Romeu Zema (Novo) de tirar Custódio Mattos do comando da Secretaria de Governo não foi bem digerida pelo PSDB, principal partido da base governista na Assembleia Legislativa (ALMG). Parlamentares tucanos não pouparam críticas à forma como o governador agiu e interpretaram o episódio como uma “traição” e uma “apunhalada” por parte do chefe do Executivo estadual. A possibilidade de desembarque da sigla da base, que estava adormecida há alguns meses, voltou a ser cogitada.

O deputado Tito Torres (PSDB) disse que Zema tomou a decisão sem informar os líderes na ALMG. “O secretário estava ontem (anteontem) em negociação com os agentes de segurança pública, às 15h. Às 16h30 foi chamado para ser dispensado”, disse, afirmando que o episódio afeta a confiança da própria base: “O governo tem que ver que precisa dessa Casa, de uma base forte, que tenha confiança no governo. Como vamos confiar em um gestor que dá uma apunhalada em uma pessoa que assumiu (o cargo) indicado pelo vice-governador?”.

“Houve um entendimento de bastidores, aquelas coisas mais rasteiras da política para retirar alguém que buscou diálogo permanente com a ALMG”, criticou João Leite (PSDB), afirmando que a postura do Novo era uma atitude “antiga, da política traiçoeira”. O tucano saiu em defesa de Custódio Mattos e disse que a articulação do ex-secretário foi fundamental para a aprovação da reforma administrativa em abril. 

O parlamentar subiu o tom e disse que Zema cometeu uma traição com o ex-secretário. “Sem dúvida, é uma grande traição com alguém que serviu tão bem Minas Gerais. Não acredito que o povo do Estado aceite uma traição como essa com um homem de bem como o Custódio”, disparou, afirmando que Zema atacou a fidelidade dos deputados e rompeu “uma ponte” com a ALMG. “O governo rompeu com alguma coisa que é muito tradicional no nosso Estado, que é a fidelidade. Nesse momento, vai ser difícil o governo reconstruir essa ponte que acaba de destruir”, completou o tucano.

João Leite também destacou que o desembarque da sigla é uma possibilidade: “Não quer dizer que a gente não vá apoiar projetos do governo que interessem a Minas. Mas não há dúvidas: se não houver uma conversa que de alguma forma nos acalme neste momento, diante de uma traição dessa, é possível, sim (o desembarque)”.

Comedido

O líder do governo na ALMG, Gustavo Valadares (PSDB), disse que a saída de Custódio não se tratou de uma questão partidária, mas disse que a forma escolhida por Zema não foi a mais justa: “É um direito do governador escolher a sua equipe, ele foi eleito. A maneira como foi feita acho que não foi a mais justa. Acredito que nem o próprio governo tenha planejado dessa forma”.

De acordo com informações de bastidores, a decisão de Zema beneficiaria o deputado federal Aécio Neves (PSDB), que corre risco de ser expulso da legenda. Com a ida de Bilac Pinto para a secretaria, quem assumiria seria Marcus Pestana, próximo de Aécio.

Com isso, a bancada tucana de Minas na Câmara dos Deputados passaria a ter seis membros, mesma quantidade da bancada de São Paulo. Essa seria uma demonstração de força do ex-governador mineiro aos dirigentes tucanos em São Paulo, a exemplo do governador João Doria e do prefeito da capital paulista, Bruno Covas, que defendem a expulsão de Aécio da sigla.

Reuniões

O deputado estadual Tito Torres (PSDB) defendeu que todos os 77 parlamentares da ALMG participem das reuniões de secretariado e não apenas os do Partido Novo. 

Caneta

Nos bastidores da Assembleia Legislativa (ALMG), a informação é de que o agora ex-secretário de governo Custódio Mattos não tinha autonomia suficiente à frente da pasta. “Era um secretário sem moral. Ele estava sem caneta. A caneta dele não tinha tinta”, comentou um parlamentar em reserva, afirmando que se o governador Romeu Zema (Novo) não der liberdade para o próximo titular, o mesmo vai acontecer.

Apesar de a saída de Custódio não ser novidade nos bastidores da ALMG, o fato pegou a todos de surpresa porque, segundo um deputado, o ex-secretário quis sair do cargo um mês após assumir, mas foi convencido pelo governador a continuar.

“O governo está procurando alguém com perfil de austeridade, de eficiência. O Bilac Pinto votou a favor da Medida Provisória da Liberdade Econômica e do Teto de Gastos, o que está alinhado com o posicionamento do governador”, disse uma fonte da base governista.