Uma pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pela biofarmacêutica Takeda e em parceria com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), revelou que 34% da população da região Sudeste do Brasil nunca ouviu falar sobre alguma vacina contra a dengue. O indicador é inferior à média nacional (36%). O levantamento divulgado nesta semana entrevistou 2 mil brasileiros - dos quais 43% estão em território sudestino - para entender as percepções sobre a dengue e vacinação em geral.

A região também registra o maior índice de medo em relação às vacinas em geral, com 31% da população expressando essa preocupação. Apesar disso, o Sudeste se destaca pelo alto nível de engajamento com o tema da dengue, com 81% afirmando buscar informações sobre a doença, acima da média nacional de 76%. Além disso, 86% acreditam que a vacinação contra a condição é eficaz para prevenir a doença.

O presidente da SBI, Alberto Chebabo, analisa que "a alta taxa de confiança na vacinação é um passo importante na luta contra a dengue, mas precisamos combater a desinformação que ainda desencoraja uma parcela significativa da população a levar o público elegível para receber a vacina contra dengue no Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Hesitação x desinformação 

Apesar do alto índice de confiança nas vacinas, o estudo revelou que a circulação de fake news impacta diretamente as decisões sobre a vacinação em geral:

• 42% dos participantes relataram ter recebido informações falsas sobre vacinas nas redes sociais.

• Quase 30% já deixaram de se vacinar ou recomendaram que outros não se vacinassem devido a dúvidas sobre segurança e eficácia.

• 11% decidiram não se vacinar por causa de informações recebidas online ou de amigos e parentes.

• 17% não mudaram de opinião, mas ficaram em dúvida por causa das informações recebidas.

Em contrapartida:

• 92% prestam atenção nas campanhas de vacinação.

• 89% acreditam que as vacinas em geral trazem benefícios.

• 96% dizem verificar a veracidade das informações sobre vacinas.

“Informações falsas sobre vacinas em geral, formas de contágio e tratamentos acabam confundindo as pessoas e dificultando a adesão a medidas preventivas e ao tratamento adequado. Por isso, campanhas educativas consistentes e claras são essenciais para combater esses mitos e reforçar a importância da prevenção e da vacinação contra a dengue,” afirma Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Impacto emocional 

A pesquisa também avaliou os sentimentos despertados pelas informações sobre vacinas em geral nas redes sociais entre os entrevistados do Sudeste:

• 75% afirmam que as informações trouxeram sentimentos positivos, como confiança (42%), tranquilidade (37%) e otimismo (34%). Além disso, mais da metade (52%) ficou interessada no tema.

• No entanto, 25% sentiram-se negativamente impactados, relatando ansiedade (17%), desconfiança (14%), medo (13%)e confusão (11%).

Fontes de informação 

• Fontes de recebimento de informação sobre vacinas: TV (60%), redes sociais (52%) e postos de saúde (50%).

• Plataformas mais buscadas: Instagram (68%), WhatsApp (58%), YouTube (48%) e Facebook (48%).

• Fake news mais comuns sobre dengue: eficácia da vacina, gravidade da doença, curas milagrosas e informações incorretas sobre formas de contágio.

Pais atentos

Metade dos participantes da região Sudeste são pais com filhos entre 4 e 17 anos. Embora cautelosos, eles têm atitudes mais positivas em relação à vacinação em geral, buscando informações e prestando atenção às campanhas. No entanto, esse grupo está mais exposto a fakenews, principalmente em redes sociais e canais pessoais, como WhatsApp. “Esses pais reconhecem a importância das vacinas e buscam informações para tomar decisões mais informadas sobre a saúde de seus filhos", destaca o presidente da SBI, Alberto Chebabo.

A vacina

Em 2024, a vacina da dengue foi incorporada ao SUS para o público de 10 a 14 anos que reside em localidades prioritárias, conforme critérios definidos a partir do cenário epidemiológico da doença no país e decisão pactuada com estados e municípios na Comissão Intergestores Tripartite (CIT).  

Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil foi o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. A vacinação no país teve início em fevereiro de 2024 em 315 municípios e, desde então, vem sendo ampliada, chegando atualmente a 1.921 municípios.

Ainda de acordo com a pasta, em 2024, o ministério enviou 6,5 milhões de doses aos estados e municípios, mas apenas 3,3 milhões foram aplicadas. A situação é ainda mais preocupante entre os adolescentes: aproximadamente 1,3 milhão de jovens que iniciaram o esquema vacinal não retornaram para a segunda dose, comprometendo a eficácia da imunização.

Para enfrentar esse cenário, o ministério recomenda que estados e municípios intensifiquem as estratégias de busca ativa, identificando e mobilizando aqueles que ainda não completaram o esquema vacinal.