A esporotricose, infecção fúngica que pode afetar humanos e animais, desperta a atenção de autoridades de saúde brasileiras há algum tempo. No entanto, no início deste ano, a doença em pessoas passou a fazer parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória, o que implica ser obrigatoriamente informada ao Ministério da Saúde sempre que for diagnosticada em um paciente. Conforme a pasta, essa exigência é importante para o monitoramento e controle da condição, permitindo a adoção de medidas adequadas para prevenir e combater surtos.

O ministério destaca que a patologia é a micose de implantação mais prevalente no mundo, sobretudo em áreas tropicais e subtropicais. No Brasil, ela foi registrada nas cinco regiões, em 26 dos 27 estados brasileiros. A doença é transmitida principalmente de animais para humanos, especialmente por meio de gatos. O contágio ocorre por meio do contato direto com secreções ou feridas dos bichos infectados pelo fungo Sporothrix schenckii. Além disso, a transmissão da esporotricose também pode ser feita por meio de trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira e contato com vegetais em decomposição. Todas essas características dificultam o controle da infecção.

Camila de Oliveira, professora da Escola de Veterinária da UFMG, explica por que os gatos são mais susceptíveis a esporotricose. “Principalmente os que têm acesso às ruas, eles estão em maior risco de contaminação devido a seus hábitos, como enterrar as fezes e participar de brigas territoriais, o que aumenta a exposição ao fungo causador da doença. Além disso, as características biológicas dos felinos fazem com que suas lesões apresentem maior carga de leveduras do fungo em comparação a humanos e cães, o que não apenas eleva o potencial de transmissão, mas também aumenta a gravidade das lesões.” 

A professora ainda diz que a doença representa um desafio por afetar pessoas, animais e o meio ambiente, sendo um problema de saúde pública. “No entanto, precisamos lembrar sempre que a esporotricose tem cura e que o tratamento é uma das formas de combatê-la.” 

Cenário em BH 

Conforme Camila, o cenário da esporotricose em Belo Horizonte é preocupante. Em 2018, a Faculdade de Veterinária da UFMG firmou uma parceria com a prefeitura da capital mineira para controle da doença. “Desde que iniciamos esse trabalho, os números de amostras recebidas, de resultados positivos e de cadáveres animais incinerados sempre apresenta uma crescente tendência. Atualmente, fornecemos a nossa capacidade máxima de testes, que são 50 amostras por semana, e a prefeitura atinge facilmente esse limite. E dessas amostras, em média, 60% são positivas. Isso dá uma noção do quanto é preocupante a situação.” 

A professora ainda destaca que como a esporotricose é um problema de saúde pública, o controle e prevenção da condição requer um esforço conjunto. “Isso deve partir de cada um: não abandonando animais, mantendo gatos sem acesso a rua, bem alimentados e tratados para que tenham um sistema imune capaz de combater doenças, além de castrá-los para reduzir o crescimento da população. Ao menor sinal de lesão que, geralmente, são feridas na pele ou aumento do nariz, é importante buscar o diagnóstico e o tratamento pela prefeitura ou com o médico-veterinário de confiança do tutor,” finaliza. 

Tratamento gratuito para gatos em BH 

O Complexo Público Veterinário de Belo Horizonte (CPVBH) disponibiliza atendimento gratuito e especializado para gatos diagnosticados com esporotricose. O programa inclui diagnóstico, acompanhamento médico por até seis meses, fornecimento de medicação e reforço alimentar. Conforme a prefeitura da capital, entre 2023 e 2024 mais de 800 felinos foram tratados, o que tem sido essencial para reduzir a disseminação da doença na cidade.

Como funciona o atendimento

Mediante agendamento prévio, que pode ser feito presencialmente na rua Albert Scharle, 79, no bairro Madre Gertrudes, Belo Horizonte, com retirada de senha de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Ou por telefone: (31) 3246-7082 e (31) 98778-2003. As consultas e o tratamento são realizados aos sábados. Há capacidade para atendimento de 140 gatos por mês. 

Telemedicina: disponível para acompanhamento de pacientes

Requisitos para atendimento:

  • Obrigatório levar o gato em uma caixa de transporte coberta com pano;
  • Documentos necessários:
  • Carteira de Identidade (RG) e CPF do tutor;
  • Comprovante de residência em Belo Horizonte;
  • Encaminhamento de médico veterinário público ou privado;
  • Agendamento prévio obrigatório.

Fluxo do atendimento

  • Gatos diagnosticados com esporotricose recebem mensalmente um kit com medicação gratuita e 10 sachês de ração umedecida para auxiliar na administração do remédio;
  • O tratamento ocorre sob responsabilidade do tutor e deve ser administrado em casa;
  • Retornos mensais são obrigatórios para acompanhamento da evolução do animal;
  • Algumas consultas podem ser feitas por telemedicina;
  • Após a cicatrização das feridas, o tratamento continua por mais um ou dois meses para garantir a cura completa;
  • Após a alta, os animais são encaminhados para castração e vacinação antirrábica pela Gerência de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde.