Rosquinha, bruschetta, pirulito. Usando nomes bastante sugestivos de alimentos, o médico infectologista Ricardo Kores, 37, consegue não apenas driblar as regras das redes sociais, que puniriam a sua conta caso ele mencionasse os nomes de órgãos sexuais, como também consegue atrair uma legião de seguidores com suas divertidas analogias. Só no Instagram, são 1 milhão e 200 mil seguidores interessados nas informações sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e sexo seguro - transmitidas por meio de vídeos leves e muito inspirados.
“No início, era uma forma de divulgar o meu atendimento clínico e me tornar mais conhecido entre o público de faixas etárias mais jovens. Porém, também me dei conta de que eu poderia acessar pessoas do país todo, oferecendo informação de qualidade e sem tabus. Não precisamos ter vergonha ao falar sobre sexo, pois é algo que a maioria das pessoas faz”, defende o médico paulista que mora em Uberlândia (MG).
E vergonha é algo que realmente não faz parte da rotina do médico nas redes sociais. Apesar do jeito tímido e introspectivo de falar, o especialista não se furta de tratar de assuntos como HIV, Prep ou como identificar se o cheiro da vagina ou do pênis estão anormais. Em um dos seus vídeos, ele também orienta sobre como “pular a cerca” de forma segura - indicando o uso de preservativos e a realização de exames de rotina.
Uma publicação compartilhada por Dr. Ricardo Kores | Médico Infectologista (@dr.ricardokores)
“Não cabe aos profissionais julgar comportamentos. Sinto que, muitas vezes, falta escuta dos médicos e sobram ordens do que é ‘correto’ fazer ou não. É uma comunicação vertical, de baixo pra cima. Prefiro trazer uma abordagem mais humanizada e criar diálogos. Basta ver os comentários das postagens para perceber como as pessoas se sentem à vontade para compartilhar suas experiências e tirar suas dúvidas”, afirma.
Apesar da legião de fãs que o médico consegue reunir nas redes, ele conta que sua comunicação nem sempre agrada a todo mundo. “É claro que existem os haters, que me acusam de usar uma linguagem ‘infantilizada’ para tratar sobre sexo. Mas, acredito que são pessoas que querem desviar o foco. No fundo, não querem entender sobre o que estou falando ou preferem evitar encarar os problemas de frente”, avalia.
Rotina de gravação e ‘confronto’ com Jojo Todynho
Quem acompanha o médico nas redes deve se perguntar de onde saem as ideias criativas e engraçadas para a produção dos conteúdos. Ricardo conta que é uma construção conjunta entre ele e sua equipe e, muitos dos elementos que hoje se tornaram clássicos, como a rosquinha e a bruschetta, surgiram da necessidade de resolver um problema de comunicação.
“Se a gente usasse a nomeclatura correta, e escrevesse vagina, pênis e ânus, provavelmente o Instagram iria diminuir o alcance dos vídeos por entender que se tratava de conteúdo pornográfico. Então surgiu a ideia de usar analogias para escapar disso e também deixar os conteúdos mais leves e acessíveis. Tem funcionado”, comemora.
Ele também revela que as gravações em si não levam muito tempo. O que demora, na verdade, é tudo o que vem antes da câmera ser ligada. “Precisamos fazer os roteiros e eu tenho que checar todas as informações e ver se as orientações ainda são atuais. Também tem o processo de edição, que toma um tempo. Sobre as comidas, o que dá mais trabalho é a bruschetta, que precisa ser feita no dia. O pirulito é só desembalar e as rosquinhas ficam congeladas”, diz.
Além das analogias, Ricardo também chama atenção por produzir conteúdos muito atuais, que brincam com os memes da moda ou abordam discussões do momento. Um dos vídeos mais recentes é uma resposta bem-humorada à influenciadora Jojo Todynho, que chamou o SUS de ineficaz. Nas imagens, Ricardo segura um copo de achocolatado e despeja a bebida no ralo enquanto defende o sistema de saúde. Até o momento, o vídeo já havia sido curtido por quase 500 mil pessoas.
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“Com tantos seguidores, é importante me posicionar. Sou um profissional da saúde e é importante que eu seja um contraponto a esses ataques. O SUS é uma conquista da população e não deve ser alvo de brigas políticas. É importante lutar pela sua melhora, e não acabar com ele só porque há defeitos”, defende.
Mineiro de coração e flerte com a psiquiatria
Nascido em São Paulo, capital, o médico já tinha ligação com Minas Gerais muito antes de decidir morar no Estado. Neto de um mineiro de Uberaba, no Triângulo Mineiro, Ricardo se formou em medicina na Unicamp e morou nas cidades de Indianópolis e Sacramento, também no Triângulo Mineiro, quando ainda atuava como médico generalista.
“Foi em Sacramento que comecei a pensar na especialização que eu faria. Até cogitei a psiquiatria, mas acabei me interessando pela infectologia ao perceber que estava atendendo muitos pacientes com ISTs e acabava direcionando para outros pacientes. Era frustrante criar um vínculo com os pacientes e depois encaminhá-los para outra pessoa. Então decidi me aprofundar nesse tema”, relembra.
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Após se especializar em infectologia, Ricardo se mudou para Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde mora há três anos e divide sua rotina entre os atendimentos em seu consultório particular e o trabalho de infectologista na Santa Casa de Misericórdia de Sacramento - a 135km de Uberlândia.
“Me realizei na infectologia, é uma área em constante evolução e na qual é possível observar os avanços de tempos em tempos. Você vê os resultados práticos na vida dos pacientes que seguem o tratamento. Problemas como o HIV, que assombram gerações passadas, hoje causam menos transtornos, pois a medicina avançou e existem novos recursos”, complementa.