A depressão é um transtorno mental que afeta o humor, a forma de pensar e o comportamento da pessoa. Assim como adultos, idosos e adolescentes, a população infantil também pode ser vítima dessa doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é que cerca de 3% das crianças entre 6 e 12 anos em todo o mundo convivam com esse transtorno.

Sintomas da depressão em crianças

Apesar de apresentar alguns sinais específicos, como birra, choro frequente e apego excessivo aos pais, a depressão em crianças costuma se manifestar da mesma forma que em adultos, incluindo sintomas como:

  • Alterações no humor;
  • Tristeza;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldades de concentração;
  • Fadiga;
  • Perda de interesse por atividades prazerosas;
  • Problemas no sono e no apetite;
  • Sentimentos de inutilidade e culpa;
  • Pensamentos suicidas.

Além disso, na infância, as crianças não têm maturidade para lidar com os sintomas e o entendimento do transtorno em si. “[…] As crianças estão vivendo um momento de muita vulnerabilidade e muita confusão emocional, e nem sempre elas conseguem traduzir isso em uma fala. Isso faz com que a duração do episódio seja cada vez mais decorrente”, explica Carla Salcedo, psicóloga, neuropsicanalista e especialista em traumas, lutos e emergências humanitárias.

Causas e tipos de depressão

As crianças podem apresentar diferentes tipos de quadros depressivos, tais como:

  • Transtorno depressivo maior: caracterizado por sintomas intensos de tristeza e perda de interesse;
  • Distimia: apresenta sintomas mais leves, porém persistentes. “Na distimia, a criança normalmente é definida como ‘mal-humorada’, a desmotivação é constante e nada a empolga”, define a Dra. Beatriz Fonseca, psiquiatra da infância e da adolescência na Clínica Revitalis;
  • Depressão mista: mescla os sintomas comuns desse transtorno com os da bipolaridade, como hipomania, agitação e impulsividade.

Os principais motivos que levam a esses quadros são: mudanças bruscas na rotina, bullying na escola, perdas e pressão por desempenho. Além disso, há a predisposição genética.

Impactos da depressão na infância

A depressão pode interferir na cognição, na socialização, nos estudos e nos relacionamentos das crianças, o que, consequentemente, prejudica diferentes áreas da vida. Além disso, o transtorno depressivo pode moldar o desenvolvimento da personalidade.

“Estamos falando de uma construção que, no futuro, vai trazer um impacto muito grande, fazendo com que ela não consiga lidar com as demandas da vida diária. Futuramente, a criança, também, pode ter uma distorção da percepção da realidade ou de si mesma, criando ciclos viciosos ou tendo dificuldade de criar vínculos saudáveis”, esclarece Carla Salcedo.

Médico fazendo um hi five com uma criança ao lado de uma mulher, todos sentados
O diagnóstico de depressão infantil é feito com base no histórico do paciente (Imagem: Studio Romantic | Shutterstock)

Diagnóstico da depressão infantil

O transtorno depressivo infantil é diagnosticado de forma clínica, isto é, por meio da descrição dos sintomas e conhecimento do histórico do paciente. Ao longo do processo de diagnóstico, o médico também considera as informações passadas pelos pais ou responsáveis do paciente.

Por isso, é importante ficar atento às modificações no humor da criança. “Essas mudanças quando ficam de forma persistente já são um sinal de alerta. Vale a pena, também, perceber as alterações no sono e na alimentação e, principalmente, quando ela passa a insistir em um isolamento social e começa a recusar coisas que antes tinha interesse, como amigos e brincadeiras”, alerta a psicóloga Carla Salcedo.

Tratamentos para depressão infantil

O tratamento para a depressão infantil geralmente envolve uma abordagem psicoterapêutica para a criança e, até mesmo, para a família. Em alguns casos, contudo, é recomendado o uso de medicação. “O uso de antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos podem ser úteis, mas eles deverão ser avaliados pelo psiquiatra, com as devidas orientações aos pais e ao paciente”, comenta a Dra. Beatriz Fonseca.

O tratamento correto permite que a criança retome sua vitalidade, melhore o desempenho escolar, desenvolva habilidades sociais e fortaleça os vínculos afetivos. Ademais, o acompanhamento precoce pode impactar positivamente no futuro do pequeno. Isso porque ele “ajuda a criança a construir recursos internos para lidar com emoções difíceis ao longo da vida”, pontua Katherine Sorroche, psicóloga e especialista em saúde mental materna, puerpério, parentalidade e primeira infância.

Além do tratamento médico, o apoio familiar é essencial, devendo ser seguro e sem julgamentos e críticas. Para isso, Katherine Sorroche sugere que os pais ou responsáveis ofereçam acolhimento, garantam momentos de conexão com a criança, mantenham uma rotina previsível e participem do processo terapêutico.