A enxaqueca crônica, uma das doenças mais incapacitantes que existem, afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo 30 milhões somente no Brasil. Uma descoberta recente da ciência, porém, apontou um novo aliado na luta contra o problema. Trata-se da liraglutida, medicamento usado no tratamento da obesidade. 

Este é o primeiro estudo clínico a explorar o potencial dos populares medicamentos para perda de peso para controlar a enxaqueca. Os resultados do estudo piloto foram apresentados no dia 21 de junho no Congresso da Associação Europeia de Neurologia, em Helsinque, na Finlândia, poucos dias após a publicação na revista científica Headach.

No estudo, Simone Braca, neurologista da Universidade Federico II de Nápoles, na Itália, e seus colegas administraram liraglutida a 31 pessoas com enxaqueca crônica e obesidade. Antes de participar do estudo, cada um dos participantes havia experimentado pelo menos dois outros medicamentos para prevenir enxaquecas, mas não obteve nenhum benefício.

Como resultado, o medicamento liraglutida reduziu os episódios mensais de enxaqueca em quase metade entre pessoas com obesidade que sofrem dessa condição indutora de dor de cabeça.

Apesar da boa perspectiva, ainda é cedo para termos certeza se o medicamento realmente o problema. Isso porque o trabalho não incluiu um grupo de controle, portanto, parte da redução da dor de cabeça observada pode ser atribuída ao efeito placebo, afirma Lanfranco Pellesi, médico especialista em cefaleias na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense, que não participou do estudo.

O efeito placebo ocorre quando uma pessoa experimenta um benefício com um medicamento porque sabe que o está tomando e espera se sentir melhor.

"Mas, os resultados são promissores o suficiente para justificar um ensaio clínico randomizado para testar a hipótese. Tal ensaio seria necessário para provar que os medicamentos podem ser usados ​​contra enxaquecas", diz Pellesi.

O que é a liraglutida?

A liraglutida é produzida pela Novo Nordisk, nos arredores de Copenhague. A mesma empresa fabrica a semaglutida, vendida como Ozempic para tratar diabetes e Wegovy para estimular a perda de peso. Tanto a liraglutida quanto a semaglutida mimetizam o hormônio GLP-1, envolvido na regulação do açúcar no sangue e na supressão do apetite.