Cientistas da Universidade de Washington identificaram que a ingestão regular de pequenas quantidades de alimentos processados eleva os riscos de desenvolver condições crônicas graves. A pesquisa foi publicada na revista Nature Medicine, na última semana, após análise de dados de 77 estudos diferentes.
Cientista do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington e autor principal do estudo, Demewoz Haile conversou com a Fox News Digital sobre o estudo. "O consumo habitual de até pequenas quantidades de carne processada, bebidas açucaradas e ácidos graxos trans está ligado a um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2, doença cardíaca isquêmica e câncer colorretal", detalhou.
A meta-análise revelou que consumir entre 0,6 e 57 gramas de carne processada diariamente aumenta em 11% a probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2. Para o câncer colorretal, a ingestão diária entre 0,78 e 55 gramas de carne processada foi associada a um aumento de 7% no risco da doença.
"Não há nível seguro de consumo habitual desses grupos alimentares, portanto, eles não devem ser incluídos em nossa dieta diária", afirmou Haile. Os pesquisadores definiram carne processada como "qualquer carne preservada por defumação, cura, salga ou adição de conservantes químicos."
O estudo também analisou bebidas açucaradas. A ingestão diária entre 1,5 e 390 gramas dessas bebidas aumentou em 8% o risco de diabetes tipo 2. O consumo entre 0 e 365 gramas por dia elevou em 2% o risco de doença cardíaca isquêmica, tipo mais comum de doença cardíaca.
Os ácidos graxos trans também apresentaram impactos negativos. Quando essas gorduras representavam entre 0,25% e 2,56% da ingestão energética diária, os pesquisadores observaram um aumento de 3% no risco de doença cardíaca isquêmica.
Um dos achados mais importantes foi que os riscos aparecem mesmo com baixos níveis de consumo. "Nossa análise mostrou que a associação mais forte é observada em níveis de exposição mais baixos equivalentes a uma porção ou menos, o que implica que consumir esses itens alimentares regularmente em qualquer quantidade aumenta o risco de resultados adversos à saúde", explicou o cientista.
Embora reconheçam que a alimentação é uma "escolha pessoal", os pesquisadores recomendam reduzir ou eliminar o consumo desses produtos. "Nossas descobertas apoiam o que é amplamente recomendado, inclusive pela OMS e CDC: Evite ou reduza ao mínimo possível o consumo de carnes processadas, bebidas açucaradas e gorduras trans artificiais", aconselhou Haile.
O Dr. Nick Norwitz, pesquisador clínico formado em Harvard não envolvido no estudo, reconheceu uma "associação relativamente consistente" entre consumo de carne processada e piores resultados de saúde, mas destacou limitações metodológicas. "Essas são associações — não necessariamente relações causais", explicou Norwitz à Fox News Digital. Ele destacou que a qualidade das evidências foi classificada como "fraca".
Norwitz apontou problemas de generalização. "Embora esses grandes estudos tenham certas forças, uma fraqueza chave é que eles agrupam muitos alimentos diferentes dentro de uma única categoria", observou. "Existem várias maneiras de processar carnes, e nem todas terão as mesmas consequências biológicas."
Embora considere "certamente viável" que carnes processadas contribuam para resultados negativos à saúde, Norwitz enfatizou a necessidade de mais pesquisas. "No final do dia, o donut do escritório ou a garrafa de refrigerante quase certamente está causando mais danos metabólicos do que uma fatia de peru de deli", comparou.