Especialistas alertam para uma doença grave chamada de síndrome de Fournier, que pode matar. Popularmente descrita como capaz de "devorar" as genitálias, a síndrome ganhou destaque após a morte do funkeiro Leandro Rogério, de 40 anos, no final de julho.
A infectologista Eveline Vale, professora de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), explicou a condição e alertou sobre sintomas e quando procurar um médico. Veja:
Síndrome de Fournier: o que é o que causa
A Síndrome de Fournier é uma fasceíte necrosante que pode se estender da região genital até a pelve, caracterizada por ser uma infecção polimicrobiana, envolvendo diferentes tipos de bactérias que atuam conjuntamente.
"A doença costuma ter início a partir de pequenas lesões, abscessos, feridas ou procedimentos cirúrgicos e evolui de forma extremamente rápida, causando destruição dos tecidos", explica Eveline.
Entre os microrganismos frequentemente associados à síndrome estão a Escherichia coli, encontrada no intestino, a Klebsiella pneumoniae e a Pseudomonas aeruginosa. A especialista do CEUB também menciona bactérias que habitam a pele, como Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus, além de anaeróbias como Bacteroides fragilis e Clostridium.
A cada 100 mil homens, aproximadamente 1,6 desenvolvem a síndrome, com maior prevalência na região Sul do Brasil. Do total de casos registrados, 77% ocorrem em pacientes do sexo masculino, com idade média de 51,7 anos, sendo a faixa etária entre 50 e 79 anos a mais afetada.
A taxa de letalidade geral é de 7,5%, mas esse percentual aumenta significativamente quando ocorrem complicações como sepse, insuficiência renal ou respiratória. Em casos mais graves, cerca de 30% dos pacientes podem necessitar de amputações parciais.
"Quando a doença aparece, a maioria dos pacientes carregam comorbidades, principalmente diabetes mellitus e hipertensão. Essas condições funcionam como combustível para o avanço rápido da infecção", destaca a infectologista do CEUB.
Sintomas e sinais de alerta
O principal sinal de alerta é uma dor intensa e desproporcional ao aspecto visível da lesão. Outros sintomas incluem inchaço, vermelhidão que progride rapidamente, formação de bolhas e um odor fétido característico, resultante da necrose dos tecidos.
O diagnóstico baseia-se na avaliação clínica, histórico do paciente e exames complementares. Radiografias e tomografias auxiliam na identificação da extensão da infecção e na detecção de gás ou necrose nos tecidos.
"Dada a rápida evolução da doença, o início do tratamento não deve esperar o resultado definitivo dos exames", enfatiza a professora Eveline Vale.
O protocolo de tratamento envolve procedimento cirúrgico para remoção do tecido necrosado, administração de antibióticos intravenosos de amplo espectro, suporte hospitalar intensivo e controle rigoroso de condições associadas, como diabetes.
"A síndrome de Fournier é uma emergência médica. Sem intervenção imediata, pode evoluir para choque séptico e levar ao óbito", alerta a especialista do CEUB.
Entre as medidas preventivas recomendadas estão a higiene adequada da região genital e perineal, o tratamento precoce de infecções urinárias ou genitais, o controle rigoroso do diabetes e cuidados específicos após procedimentos cirúrgicos ou traumas na área.
"Reconhecer rapidamente os sinais e buscar atendimento médico imediato pode fazer toda a diferença entre a recuperação e as complicações graves", conclui Eveline Vale.