Elas estão em evidência. Canetas emagrecedoras como Mounjaro, Ozempic e a versão brasileira, Olire, já ultrapassaram até mesmo as buscas pelo termo ‘dieta’ no Google. Entretanto, como ocorre com qualquer medicamento, os efeitos colaterais também têm despertado crescente atenção em médicos e pacientes.  Além de sintomas mais conhecidos, especialistas e veículos internacionais têm chamado a atenção para possíveis impactos do uso desses remédios no desempenho sexual feminino e na saúde da vulva.

O portal de notícias do Reino Unido, Ladbible, tratou o assunto como um ‘impacto sexual preocupante' causado pelo o que eles apelidaram de ‘Vulva Ozempic’. Entre os relatos de mulheres ouvidas pela reportagem internacional, estão os de flacidez nos lábios externos, fraqueza nos músculos vaginais e secura na região íntima feminina.

Fabricantes desses medicamentos não confirmam esses efeitos colaterais, mas ginecologistas ouvidos pela reportagem do portal O TEMPO afirmam que essas consequências são frutos de um emagrecimento acelerado em curto prazo.

“Isso acontece por causa da redução da gordura sobre a pele, o que acarreta na força muscular nos tecidos de sustentação e principalmente uma ação direta num tipo de gordura regenerativa - a gordura DWAT - que estimula a manutenção do colágeno local e modula uma regeneração positiva na própria pele, mantendo a elasticidade e diminuindo fibroses internas do envelhecimento”, explica Henrique Tavares Barreto, médico ginecologista especialista em reprodução, endometriose, estética íntima, longevidade e medicina do esporte. 

Em termos estéticos, a perda da gordura DWAT pode causar o envelhecimento da pele na região íntima, o que gera consequências.

"Mulheres com essa perda podem ter alterações estéticas significativas, causando constrangimentos pessoais e desconforto na relação, visto que esse coxim adiposo é importante para o contorno corporal e para proteção de impactos na região óssea abaixo da vulva”, afirma o médico. Henrique também alerta que a diminuição da gordura nos lábios externos (grandes lábios) pode causar desconforto até nas roupas com contato direto, como uma calça jeans, por exemplo.

O desempenho sexual

Por outro lado, a médica ginecologista Rachel Silviano, membro do Comitê de Disfunções do Assoalho Pélvico da SOGIMIG, afirma que a flacidez vulvar pode não estar diretamente relacionada com o desempenho sexual das mulheres:

“A sexualidade feminina é muito mais complexa. A preocupação estética vivida hoje é que pode, sim, ter relação com o desempenho sexual. Mulheres com dismorfia e desejando ter corpos perfeitos, assim como vulvas perfeitas, fantasiam que, se não for perfeito, a sexualidade piora. Mas, em termos médicos, não vejo piora de desempenho por flacidez de pele vulvar”, explica.

A especialista também acredita que há poucas evidências que relacionem os efeitos das canetas emagrecedoras na saúde da vulva feminina:

“Em relação à musculatura não há estudos em mulheres com pouco sobrepeso que utilizam medicamentos para emagrecer e apresentam disfunção do assoalho pélvico. Na verdade, os músculos do assoalho pélvico são pouco trabalhados no dia a dia da vida moderna. Daí a importância de conhecermos esse grupo muscular e aprendermos a trabalhá-lo”, afirma.

O melhor caminho defendido pelos especialistas são de processos de emagrecimento que sejam constantes e que realmente tenham a mudança de hábitos alimentares e de vida.

“Na verdade, emagrecer com saúde é excelente para a saúde de um modo geral, incluindo a vulva. Atualmente, com a esquizofrenia das redes sociais, as mulheres fazem qualquer coisa para estarem magras, musculosas e cheias de libido. Os milagres não existem. A receita é se reeducar para se alimentar de maneira balanceada e aprender a fazer escolhas inteligentes”, finaliza a dra Rachel Silviano.