Um estudo demonstrou, pela primeira vez, que ataques cardíacos podem ser desencadeados por processos infecciosos, além dos fatores tradicionais como colesterol elevado e estilo de vida. De acordo com os pesquisadores, a pesquisa abre novos caminhos para o tratamento, diagnóstico e até mesmo para o desenvolvimento de vacinas.
Publicado no "Journal of the American Heart Association", o estudo revelou que na doença arterial coronariana placas ateroscleróticas (depósitos de gordura) contendo colesterol podem abrigar um biofilme gelatinoso e assintomático, formado por bactérias ao longo de anos. Essas bactérias ficam dormentes dentro do biofilme e permanecem protegidas tanto do sistema imunológico do paciente quanto de antibióticos.
Uma infecção viral ou outro gatilho externo, porém, pode ativar o biofilme, causando proliferação bacteriana e uma resposta inflamatória, o que leva à ruptura da capa fibrosa da placa, resultando na formação de trombos e, em último caso, em infarto.
O professor da Universidade de Tampere, Pekka Karhunen, líder do estudo, explica que anteriormente acreditava-se que a doença arterial coronariana era iniciada apenas pela lipoproteína de baixa densidade oxidada (LDL). "Há muito tempo se suspeita do envolvimento bacteriano na doença arterial coronariana, mas faltavam evidências diretas e convincentes." Nosso estudo demonstrou a presença de material genético - DNA - de várias bactérias orais dentro de placas ateroscleróticas", afirmou o professor em comunicado.
Os resultados foram validados através do desenvolvimento de um anticorpo direcionado às bactérias descobertas, que revelou estruturas de biofilme no tecido arterial. Segundo os pesquisadores, essas bactérias liberadas do biofilme foram observadas em casos de infarto. O sistema imunológico também respondeu a elas, desencadeando uma inflamação que rompeu a placa carregada de colesterol.
A pesquisa foi realizada pelas Universidades de Tampere e Oulu, pelo Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar e pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. As amostras de tecido foram obtidas de indivíduos que faleceram por morte cardíaca súbita e de pacientes com aterosclerose submetidos a cirurgias de limpeza de artérias.