Por um momento, tente relegar a segundo plano grandes jogadas, gols antológicos e defesas espetaculares. Afinal, como sugere o bordão contemporâneo, “nunca será só futebol”. Antes de bola na rede, por exemplo, é obrigatório dinheiro no caixa da Federação Mineira de Futebol (FMF), como determina o Regulamento Geral de Competições.
Em até 72 horas prévias às partidas, o clube mandante deverá ter quitado o boleto emitido pela entidade para cobrir as taxas da partida. Caso contrário, o duelo será cancelado, e os donos da casa, responsáveis pelo pagamento, decretados derrotados por W.O. (3 a 0).
Considerando apenas os nove times do interior que disputaram a primeira fase do Campeonato Mineiro deste ano, eles pagaram, juntos, R$ 1.588.479,48 para entrar em campo nas 49 vezes que foram mandantes. O valor corresponde a 59,53% do montante arrecadado pelos clubes, um total de R$ 2.668.205,00.
Ao computar os 36 embates sem a presença de América, Atlético e Cruzeiro no interior, quando as rendas e os custos são majorados, as agremiações tiveram despesas de R$ 902.642,61, o equivalente a 94,3% do faturamento nos duelos (R$ 957.145,00).
Os débitos a serem quitados com a FMF, antes do apito inicial, são descritos da seguinte forma: taxa (10%), quadro móvel, comissão de arbitragem (taxa, diárias, transporte), confecção e envio de ingressos, fundo para controle de doping, além de impostos e seguros obrigatórios.
Distorção entre cobranças e despesas
O mecanismo utilizado pela Federação Mineira de Futebol (FMF) para fazer cumprir as disposições financeiras, previstas no Regulamento Geral de Competições, e aprovadas pelos clubes que disputam o Campeonato Mineiro, apresenta dados inconsistentes. Em algumas transações bancárias, os comprovantes de pagamentos das taxas de alguns times não batem com os valores lançados nos borderôs disponíveis no site da FMF.
Em um dos documentos consultados, o ágio que o clube mandante pagou em relação aos valores lançados no boletim financeiro foi de 5,25%. Em outro caso analisado, a sobretaxa foi de 13,65%.
O valor nominal, nesse caso, tomando por base a média salarial paga por alguns clubes de pequeno porte do futebol de Minas Gerais, daria, por exemplo, para custear um mês de trabalho de determinados atletas.
No vermelho
O Tombense foi o clube que teve a pior arrecadação nas partidas do Mineiro. Em cinco jogos realizados no estádio Almeidão, em Tombos, arrecadou exatos R$ 61.050 e teve R$ 127.328,73 de despesas, o que significa déficit de R$ 66.278,73. O balanço só não foi pior devido à renda obtida na derrota para o Cruzeiro por 3 a 0, válida pela sexta rodada, quando o time vendeu 1.761 ingressos e faturou R$ 40.500.
‘Lei do Silêncio’ e receio
Convencer algum dirigente de clube do interior de Minas Gerais a avaliar os gastos que eles têm para colocar os times em campo é tarefa hercúlea. Não raro, infrutífera. A impressão é a de que impera uma espécie de “lei do silêncio” quando o assunto é Federação Mineira de Futebol (FMF).
“O valor que está lançado no boleto o clube tem que pagar. Não tem conversa. Se não pagar, não tem jogo. É isso. Nunca sabemos, por exemplo, se os prestadores de serviço do tal quadro móvel da federação apareceram ou não para o jogo, quantos são, o que fazem”, admitiu um dirigente, sob condição de anonimato. “Ninguém sabe, mas ninguém cobra. É um assunto melindroso para os clubes”, acrescenta o dirigente.
Clubes evitam abordar o assunto
Os dirigentes do interior sempre comentam as dificuldades financeiras que têm para manter as equipes. No entanto, todos os cinco procurados pelo Super.FC para falar sobre o pagamento de taxas à FMF e como é feita a prestação de contas evitaram abordar o assunto. “Não quero falar sobre isso porque não é bom brigar com a federação”, alegou um gestor, que pediu para não ser identificado.
Sem resposta
A Federação Mineira de Futebol (FMF) foi procurada para falar sobre arrecadações e despesas cobradas dos clubes que participaram do Mineiro. Foram enviadas cinco perguntas à entidade, que não retornou o contato. Entre os questionamentos, como é feita a prestação de contas aos clubes em relação aos pagamentos do quadro móvel e da arbitragem, bem como qual contrapartida é oferecida às equipes do interior que disputaram o Módulo I.