Mesmo tendo atuado por outras 16 equipes em duas décadas como profissional do futebol, o ex-atacante Wellington Paulista revelou ter vivido no Cruzeiro os momentos mais marcantes de sua carreira. Em especial pelo fatídico clássico com o Atlético em 2011, quando a Raposa corria risco de rebaixamento, na rodada final do Brasileirão, mas impôs uma impiedosa goleada de 6 a 1 sobre o arquirrival.

"Joguei futebol profissional por vinte anos. Dezessete times, umas oitocentas partidas, duzentos e tantos gols de tudo quanto é jeito. E vou falar uma coisa pra você: tenso, tensão braba mesmo, de ficar com nó na garganta, perder o sono e tal, eu só senti uma vez. Foi na semana daquele Cruzeiro x Atlético em 2011", afirmou WP9 em entrevista ao The Players Tribune.

O ex-atacante relembrou todo o cenário que envolvia aquela partida. "Era a última rodada do Campeonato Brasileiro. Os dois times estavam muito mal, uma draga lascada. O Atlético um pouco menos porque já tinha se livrado do rebaixamento. Nós ainda não. Na partida anterior, bastaria ter vencido o Ceará pra ficarmos tranquilos. Mas empatamos. E aí carregamos aquela angústia filha da mãe pro clássico".

Wellington Paulista contou ainda ter suportado muita pressão antes da partida decisiva.  "Passei a semana inteira ouvindo palhaçada da torcida dos caras. Que vão cair, que o Galo vai ciscar vocês pra Segundona, que não sei o quê. Teve um sujeito que toda noite, todas as sete noites seguidas, sem falta, o miserável soltou rojão na porta da minha casa. Foi osso", destacou na mesma entrevista.

"Só pensava em entrar logo em campo, meter um golzinho, 1 a 0 tava bom, e acabar logo com aquilo. Mas os dias se arrastavam. Eu chegava na Toca pra treinar e sentia o clima pesado por todo lado. A gente precisava vencer de qualquer jeito. Um empate não adiantava", acrescentou.

"Foi nessa pegada que cheguei naquele preocupante Cruzeiro x Atlético de 2011. O universo conspirava contra nós e pesava toneladas. Eu estava tenso como nunca tinha me sentido. Mas, ao mesmo tempo, confiava que era capaz de fazer um golzinho só e poupar a torcida cruzeirense da gigantesca tristeza de ser rebaixado pelo maior rival".

Tristeza na pele

Se referindo ao trauma da perda do título da Libertadores de 2009, Wellington Paulista afirmou que não seria possível suportar uma segunda tristeza tão grande em um intervalo tão pequeno se o time não tivesse ganho a partida contra o Atlético.

"Eu sabia direitinho o quanto dói uma tristeza cruzeirense. Dois anos antes a gente perdeu a final da Libertadores pro Estudiantes dentro do Mineirão. Foi um baque absurdo. Talvez seja a minha maior dor nesses vinte anos de futebol profissional. Fizemos 1 a 0 num chute do Henrique de fora da área e ali pensei: 'Mano, a gente não perde esse título'. Mas tudo ruiu em dez minutos. Eles empataram e viraram num lance surreal. A bola estava na nossa mão. Era um lateral nosso, que cobramos mal, aí eles inverteram o jogo, conseguiram um escanteio e acabou. O Boselli marcou de cabeça, despejando silêncio e tristeza no Mineirão", relembrou.

Por isso mesmo, Wellington Paulista não admitia ter outra frustração gigante com a camisa celeste. "Pra mim e pra todo mundo no Cruzeiro, o último jogo do Brasileiro de 2011 contra o Atlético era uma final. Jogo de vida ou morte, não tinha definição melhor.

Raposa alucinante

Durante a entrevista, Wellington Paulista também lembrou com que espírito a equipe entrou em campo para encarar o arquirrival na Arena do Jacaré. "Quando a partida começou, ficou claro que tava todo mundo a fim de correr, marcar, pegar, impedir qualquer chance do adversário de se aproximar do nosso gol. E aí foi loucura total: o primeiro tempo acabou 4 a 0 pra nós! Os caras não viram a cor da bola", vibrou.

E ainda teria espaço para o dele. "No segundo tempo, o Roger foi à linha de fundo, botou a bola no segundo pau e eu cumprimentei de cabeça: 5 a 0! Foi uma explosão de alegria. A única coisa que eu carregava no peito era gratidão por estar vivendo um momento tão especial. E por poder compartilhar ele com cada cruzeirense ali arquibancada ou em casa. No final, 6 a 1 pra nós — a maior goleada da história do clássico!", destacou, aliviado.

Mesmo passado muito tempo daquele jogo, WP9 afirma que os torcedores celestes quando o encontram ainda fazem questão de relembrar. "Até hoje, treze anos depois, ainda trombo com torcedor que me pede pra tirar foto fazendo o 6 com as mãos. Eu acho engraçado, a gente ri junto, relembra os lances do jogo, mas deixo a provocação só pra torcida. Eu faço questão de lembrar dessa vitória porque ela resume o Wellington, o Wellingol. Com coração e muito amor. Do jeito que me ensinaram no lugar de onde eu venho. Do jeito que aprendi com os mineiros e os cruzeirenses, desde o primeiro dia", finalizou.