O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) definiu o gol como “o orgasmo do futebol”. Em contrapartida, chamou o goleiro de “desmancha-prazeres”. Afinal, “o goleador faz a alegria, e o goleiro a desfaz”, acrescenta o autor de “Futebol ao Sol e à Sombra”. Neste sábado (22), dois personagens de América e Cruzeiro poderão subverter a máxima, a partir das 16h30, no Independência, quando será definido o primeiro finalista do Campeonato Mineiro.
Isso porque, em caso de empate no tempo normal, a vaga será decidida nos pênaltis, já que o duelo de ida terminou 1 a 1. Desse modo, a classificação poderá surgir, literalmente, das mãos de Matheus Mendes, pelo Coelho, ou de Cássio, pela Raposa. Oportunidade para mostrar que a posição, sujeita a ser “condenada à desgraça eterna”, segundo Galeano, também pode ter seus dias de glória.
Emprestado pelo Atlético ao América até o fim deste ano, Mendes tem 25 anos e está aproveitando a chance com boas atuações. Em oito partidas, sofreu cinco gols, média de 0,62 por jogo. “Está tendo a oportunidade de jogar no América e indo muito bem. Será o futuro goleiro do Atlético”, aposta José Maurício de Freitas, o Zé Maurício, de 74 anos.
Ele foi goleiro e preparador, mas, atualmente, está aposentado. No auge da carreira, trabalhou com nomes como o lendário Dida, durante sua passagem pelo Cruzeiro, na década de 1990.
Luiz Fernando Gatão, responsável pela preparação de Taffarel no Atlético, entre 1995 e 1998, tem opinião semelhante à de Zé Maurício sobre o titular da meta americana. “Ele era pegador de pênalti na base do Atlético e tem uma explosão lateral fantástica. Está jogando muito bem e pode se consagrar neste Mineiro”, elogia Gatão, de 55 anos.
Momento adverso
Se o goleiro do Coelho está em ascensão na carreira, o veterano Cássio, de 37 anos, tem vivido dias difíceis. Após 12 anos de idolatria e títulos no Corinthians, ele chegou à Toca II em maio do ano passado muito festejado pela torcida. No entanto, a euforia das arquibancadas vem cedendo espaço às críticas. O goleiro soma 37 partidas com a camisa estrelada e 34 gols sofridos. Pelo Mineiro, foram sete duelos e sete bolas vazadas.
“Cássio é um jogador de muita experiência, acostumado a jogos grandes, a decidir. Tem ótima envergadura, mas está perdendo velocidade, pode ser em função do peso, da idade. Mas não pode ser subestimado. É um goleiro frio, com senso de posicionamento e consciente. Contudo, em determinados momentos, o cara sabe o que tem de fazer, mas o corpo não acompanha”, aponta Gatão.
Zé Maurício enaltece as qualidades de Cássio, mas concorda que o momento não é o mais favorável da carreira. “É um goleiro de muito potencial, extremamente experiente, mas não vem em boa fase. Quando chegou ao Cruzeiro, gostei das partidas dele, mas, ultimamente, tem sofrido alguns gols evitáveis. A impressão é a de que ele perdeu velocidade de reação”, analisa o ex-preparador.
No entanto, Zé Maurício destaca o trabalho feito pelo profissional que treina Cássio. “Conheço o Robertinho. É um excelente profissional, que trabalha muito”, diz. Sem citar o exemplo do Cruzeiro, Gatão pondera: “Preparador não faz goleiro. Preparador o condiciona. Se o cara é bom goleiro, ele é bom e ponto”.
Pênalti é sorte?
Costumam dizer que pênalti “é sorte”. Já os especialistas têm outra perspectiva sobre o tema. “Uma das coisas mais importantes é a impulsão lateral, quando se usam os músculos adutor e posterior da coxa. É a potência, a explosão para fazer o movimento, envergadura, posicionamento”, explica o preparador Luiz Fernando Gatão.
“Também é necessário ter muita concentração e esperar ao máximo para tomar a decisão. Tentar sair junto e não se precipitar. Porque, ao fazer o movimento e jogar o peso do corpo para determinado lado, o goleiro não consegue voltar mais”, completa.
Preparador aposentado, José Maurício de Freitas destaca que também é importante analisar o cobrador. “Precisa saber como ele costuma bater, como o jogador foi durante o jogo e ter muita concentração. Esperar até o último momento para reagir. Além disso, a explosão e a envergadura também são fundamentais”, considera Zé Maurício.
A fase de Cássio não é das melhores, mas o goleiro tem experiência suficiente para dar a volta por cima. A semifinal do Campeonato Mineiro pode ser uma oportunidade importante, no entendimento de Luiz Fernando Gatão. “Por tudo que já viveu e conquistou na carreira, pode usar uma situação dessa, de pênalti, para se reabilitar. É um momento único, e jogadores como ele sabem que pode ser a hora de dar a resposta às críticas que vem sofrendo”, aponta o treinador de goleiros.
Recordistas em defesas de pênaltis
Atual treinador do Bahia, o ex-goleiro Rogério Ceni lidera o ranking brasileiro dos maiores pegadores de pênaltis da história. Pelo São Paulo, o antigo camisa 1 defendeu 51 cobranças na carreira. Ceni é seguido por Dida, com 42 defesa, e Diego Alves, com 40. Marcos, ex-Palmeiras, completa a lista dos jogadores que já encerraram a carreira, com 36.
Entre os atletas em atividade, os destaques são Thiago Volpi, do Grêmio, Fábio, do Fluminense, e Cássio, do Cruzeiro, com 37 cada um.