O gigante caiu

As mazelas foram demais: crônica do Cruzeiro rebaixado à Segunda Divisão

O bicampeão da América, o rei de Copas do Brasil, o tetracampeão nacional tem suas páginas heroicas manchadas por vaidades, brigas, egos e disputas de poder

Por Thiago Nogueira
Publicado em 08 de dezembro de 2019 | 18:54
 
 
 
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O Gigante caiu. As mazelas foram demais. Demais. Irreparáveis, irreversíveis. O bicampeão da América, o rei de Copas do Brasil, o tetracampeão nacional tem suas páginas heroicas manchadas por vaidades, brigas, egos e disputas de poder. O campo de jogo foi contaminado. Os jogadores perderam a alma. E a nação estrelada tomou o golpe. O Cruzeiro está rebaixado à Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro pela primeira vez em sua história.

Um time caro, de salários altos e uma campanha pífia. Campeões que há um ano desfilavam em carro aberto pela cidade, envergonharam 8 milhões de torcedores com um futebol monótono e inofensivo. Sete vitórias em oito meses de competição é muito pouco. Quinze empates não levam a lugar nenhum. E a derrota para o Palmeiras, neste domingo (8), por 2 a 0, em pleno Mineirão, só sepultou o que já estava consumado. Dezenove rodadas na zona de rebaixamento, um turno inteiro de apreensão e angústia, com raros momentos de suspiros.

O caminho do calvário começou sob a batuta de Mano Menezes, então o mais longevo treinador do futebol brasileiro, tido como estrategista, há três anos no cargo. Os resultados o derrubaram e um técnico novo, de princípios modernos, o sucedeu. Rogério Ceni abandonou um trabalho consistente no Fortaleza para assumir um clube que já se alastrava em chamas. Bateu de frente com estrelas do grupo, não resistiu e deu vez a um Abel Braga, que se mostrava esgotado desde que pisou na Toca da Raposa. Adilson Batista nada pôde fazer.

A ganância falou mais alto. O Cruzeiro começou o ano pensando em Mundial de Clubes, em dezembro. A Libertadores era uma meta colocada a todo custo. O time já se mostrava ajustado, era apontado como favorito à grandes conquistas no ano por especialistas. Arrascaeta saiu numa transação conturbada para o Flamengo, mas que rendeu a bagatela de R$ 63 milhões, na maior transação do futebol brasileiro. O dinheiro serviu para trazer nomes tarimbados, como Rodriguinho e Marquinhos Gabriel, mas não serviu para estancar uma crise financeira que, pouco depois, se eclodiria numa crise política e administrativa.

O presidente Wagner Pires de Sá, o então vice-presidente de futebol, Itair Machado, e outros nomes de alto escalão da diretoria se viram envolvidos em denúncias de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, corrupção e favorecimento de empresários, jogando o nome do Cruzeiro às páginas policiais.

Antes herói, agora vilão. Afastado na reta final por seu comportamento extracampo, potencializadas pelas redes sociais, Thiago Neves ficará marcado como o protagonista do rebaixamento. A displicência na cobrança de pênalti no fatídico jogo contra o CSA, no Mineirão, será a cena da queda. Integrado por promessas da base, como Éderson, Cacá e Maurício – pouco responsabilizados por tudo o que aconteceu – , o grupo do Cruzeiro rebaixado à Série B reúne os ídolos Fábio (871 jogos), Henrique (516) e Léo (380), que integram top 10 dos jogadores que mais vestiram as cores do clube.

Pivô de uma disputa milionária com o rival Atlético desde que trocou de lado, Fred, que tanto teve o nome gritado para voltar ao clube, também carregará a cicatriz de pouco ter conseguido produzir no fim das contas. Campeões recentes das Copas do Brasil de 2017 e 2018, Dedé, Egídio e Edílson não se explicaram e nem chamaram a responsabilidade.

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