Há derrotas que machucam o torcedor. E outras, por incrível que pareça, que até lhe dão alento. É neste último caso que podemos enquadrar a campanha do Cruzeiro no Campeonato Mineiro 2022. Mesmo que na final tenha sido batido por 3 a 1 pelo arquirrival Atlético, o time comandado pelo uruguaio Paulo Pezzolano mostrou durante a competição uma consistência que a Raposa não apresentava nos dois últimos anos. Mas nem tudo são flores. Ainda são necessários ajustes – e reforços – para que o objetivo principal, a volta à elite do futebol brasileiro, possa ser conquistada.
Vários são os fatores em que a evolução da equipe é nítida. O primeiro deles diz respeito à forma de jogo. Seja como mandante ou como visitante, e mesmo diante de equipe tecnicamente superior, o time de Paulo Pezzolano não altera sua proposta, baseada sempre em muita intensidade, marcação pressão na saída de bola do adversário e jogo construído, “de pé em pé”, desde a linha defensiva.
A organização defensiva da equipe também é um ponto em que houve evolução. Mesmo que o time tenha sofrido uma média superior a um gol por partida (foram 15 em 14 jogos). É possível perceber que há uma melhor cobertura dos avanços dos laterais. Entretanto, até mesmo pelo estilo adotado pelo comandante, muitas vezes os zagueiros ainda acabam ficando no ‘mano a mano’ com os atacantes adversários quando o time perde a posse de bola no meio-campo.
O aproveitamento mais concreto de jogadores formados no clube também merece ser destacado. Dos 36 atletas utilizados por Pezzolano durante a competição (incluindo, claro, os jogos em que escalou times ‘alternativos’), nada menos do que a metade têm passagem pela base celeste.
E o importante é que não são apenas atletas para ‘completar o grupo’. Entre os relacionados para a final contra o Atlético, eram nove: Denivys, Geovane, Rafael Santos, Adriano, Breno, Daniel Jr, Miticov, Vitor Leque e Vitor Roque. Três começaram como titulares e outros três entraram no decorrer da partida.
Dentre eles se destaca a ascensão de Vitor Roque. Considerada a maior joia da base celeste nos últimos anos, o garoto de 17 anos vem sendo muito bem tralhado por Pezzolano. Foi ganhando oportunidades aos poucos até se consolidar como titular.
Como o próprio treinador ressalta, Vitor Roque ainda não está pronto, mas já mostrou que pode fazer uma parceria de sucesso na Série B com Edu, atacante que já se identificou com a torcida e apresenta números impressionantes (10 gols em 12 jogos na temporada).
Por outro lado, a campanha da equipe no Mineiro mostrou que o elenco do Cruzeiro ainda tem lacunas que precisam ser preenchidas, principalmente depois que cinco atletas deixaram o clube (o lateral direito Gabriel Dias, os zagueiros Sidnei e Maicon, o volante Lucas Ventura e o atacante Thiago).
A lateral direita, por mais que Rômulo venha tendo apresentações seguras, ainda carece de um jogador da posição que seja mais experiente que Geovane. Veterano, dificilmente Rômulo conseguirá resistir à longa sequência de jogos da Série B.
Na zaga, mesmo após a chegada de Wagner, ex-Santos e Fortaleza, seria preciso mais um nome de peso. Do meio-campo para frente, o time ainda busca o camisa 10, já que João Paulo alterna bons e maus momentos, e mais um camisa 9 principlamente para quando Edu não puder atuar.
É claro que a contratação de possíveis reforços esbarra na situação financeira e toda a indefinição sobre a permanência ou não de Ronaldo à frente da SAF Cruzeiro. Mas, mesmo com esses ‘senões’, o que a equipe demonstrou no Mineiro é suficiente para fazer com que o torcedor celeste possa visualizar um futuro melhor e a conquista da tão sonhada vaga na elite ao final da temporada.
Campanha do Cruzeiro no Mineiro
14 jogos: 9 vitórias, 1 empate e 4 derrotas – 60,8% de aproveitamento
26 gols marcados (média de 1,86) – 15 gols sofridos (média de 1.07)
Todos jogadores utilizados por Pezzolano no Mineiro
Goleiros: Rafael Cabral (11 jogos, 13 gols sofridos), Denivys (2 jogos, nenhum gol sofrido) e Ezequiel (1 jogo, 2 gols sofridos)
Laterais: Rafael Santos (11 jogos, 1 gol), Rômulo (10 jogos), Geovane (9 jogos), Matheus Bidu (6 jogos, 1 gol) e Gabriel Dias* (3 jogos)
Zagueiros: Eduardo Brock (11 jogos, 1 gol), Oliveira (8 jogos), Mateus Silva (5 jogos), Maicon* (3 jogos), Weverton (2 jogos), Sidnei* (2 jogos) e Paulo (1 jogo)
Volantes: Willian Oliveira (11 jogos), Filipe Machado (10 jogos, 1 gol), Adriano (8 jogos, 1 gol), Pedro Castro (6 jogos), Miticov (4 jogos), Ageu (2 jogos), Lucas Ventura* (2 jogos)
Armadores: João Paulo (12 jogos, 3 gols), Daniel Jr (10 jogos, 2 gols), Fernando Canesin (8 jogos), Giovanni (6 jogos, 2 gols), Marco Antônio (5 jogos), Vitinho (1 jogo)
Atacantes: Edu (10 jogos, 7 gols), Waguininho (10 jogos, 1 gol), Vitor Roque (8 jogos, 3 gols), Bruno José (8 jogos, 1 gol), Thiago* (7 jogos, 2 gols), Vitor Leque (5 jogos), Marcelinho (2 jogos) e Jhosefer (2 jogos)
*Já deixaram o clube’