Mano Menezes é dono de um estilo peculiar. A fala serena, por vezes, encontra a ironia. Não lhe faltam algumas respostas e até gestos sarcásticos quando se vê contrariado pela imprensa ou quando a pressão da torcida se instaura por uma série de fatores. Depois da parada da Copa do Mundo, um comentário sobre as críticas das arquibancadas provocou uma crise no relacionamento, nem sempre amistoso, com os torcedores. Mas, com os resultados aparecendo, o perdão da arquibancada veio. 

Mano, no Cruzeiro, parece sempre flertar com o perigo. Todavia, se existe um lado que não muda nesta queda de braço, é o de Mano. A vitória sobre o Flamengo na quarta-feira foi mais um momento de êxtase nesta história de amor e ódio. E lá se vão dois anos ininterruptos com mais capítulos doces que amargos. A prova de que, no futebol brasileiro, todas as variantes são extremamente mutáveis. 

Mano, astuto como é, já não se surpreende. Avalia o mundo da bola com cautela, mesmo que as influências externas tentem lhe tirar do rumo.

“O futebol é muito duro, porque você pode fazer tudo certo e não ganhar. Você pode poupar e fazer o que tem que ser feito, mas toma um gol e perde por 1 a 0. Então, minha filosofia para esses casos é a seguinte: vamos fazer o certo, conversar, nos reunir e decidir em equipe. É isso que a gente faz. Não tem nenhum segredo, nada extraordinário. Apenas nós temos uma experiência de alguns anos para saber que, externamente, a conversa que se fala não é a que temos de ouvir. A conversa é voltada para o resultado: ganhou, está tudo muito bom; perdeu, está tudo muito ruim. Não é assim no futebol. Se a gente não souber ter essa frieza e experiência para tomar decisões, não vamos a lugar algum. Aí fica batendo cabeça para todos os lados, ouvindo todo mundo, menos as pessoas capacitadas e a quem devemos ouvir”, pontua Mano. 

A mesma cautela de quem teve seu cargo de técnico da seleção brasileira tomado à revelia. As rasteiras fazem bem à vida. Nada mais o assusta. O Cruzeiro que vem se impondo a cada novo desafio no mata-mata é um espelhamento de seu técnico. Desde a primeira passagem de Mano, o Cruzeiro se deu bem toda vez que precisou decidir em casa uma disputa eliminatória. Filme que começou com o Corinthians em 2016, nas quartas de final da Copa do Brasil. E as páginas heroicas e imortais foram acrescidas nas disputas pelo Mineiro e pela Copa do Brasil do ano passado. Há uma coerência no trabalho e a permanência do técnico influencia. 

“Dentro da palestra antes dos jogos, o Mano ressalta todos os detalhes do adversário para que possamos entrar em campo cientes do que o rival pode fazer. Isso aliado à consciência tática nos favorece”, explica o goleiro Fábio. 

 

Para Lélio Gustavo, Mano é o melhor técnico do Brasil

Conhecido pela opinião forte, Lélio Gustavo, comentarista da rádio Super Notícia 91.7 FM, avalia Mano Menezes como o melhor técnico do Brasil na atualidade. A vitória sobre o Flamengo foi uma espécie de “cereja no bolo” em algo que o jornalista já apontava em suas análises sobre o desempenho do Cruzeiro. 

“O Mano é um grande treinador, porque ele consegue organizar suas equipes rapidamente. Ele já funcionou, inclusive, como técnico bombeiro no Cruzeiro, se dando muito bem e salvando o time duas vezes da zona do rebaixamento. E agora, na sequência que ele está tendo, com a chance de começar desde o início do ano, os resultados estão vindo. Já foi campeão da Copa do Brasil e do Mineiro”, destaca Lélio. 

“O que me faz pensar que ele é o melhor técnico do Brasil é porque ele consegue organizar o time, jogador o respeita, você não vê atleta indo ao microfone reclamar publicamente de alguma decisão. Hoje em dia, jogador tem tanto ‘mimimi’ que o técnico conseguir o respeito deles prova que ele é muito bom de serviço. O Mano Menezes sabe dividir bem as tarefas dentro da comissão técnica, não parece ser um cara tão vaidoso, só é chato mesmo, mas é muito competente. Eu gostaria de vê-lo em meu time”, finaliza o comentarista.

Evolução

No ponto. A vitória sobre o Flamengo foi apontada por Mano como uma das melhores atuações do time na temporada. Um triunfo que permitiu ao comandante vislumbrar o que o time pode render na sequência do ano, principalmente com as decisões batendo à porta. 

“Acredito que estamos chegando ao ponto em que a equipe precisa estar para essa reta final de Copa Libertadores e também de Copa do Brasil. São jogos decisivos, jogos duros, estamos chegando perto desse nível de concentração”, destacou o treinador celeste. Foi a terceira vitória do Cruzeiro fora de casa em confrontos eliminatórios nesta temporada. O feito já havia acontecido nas oitavas de final e também nas quartas de final da Copa do Brasil, contra Atlético-PR e Santos, respectivamente.