Cinco policiais estão, na manhã desta terça-feira (9), no apartamento do presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, localizado no bairro Luxemburgo, região Centro-Sul da capital. A polícia procura por documentos na residência do cartola celeste. A ação é parte da operação Primeiro Tempo deflagrada na manhã desta terça-feira.
A crise no Cruzeiro eclodiu com reportagem exibida no Fantástico, da Rede Globo, no dia 26 de maio. Os repórteres Gabriela Moreira e Rodrigo Capelo tiveram acesso a um inquérito policial que, baseado em um balancete contábil analítico, demonstrou pagamentos feitos pelo clube no decorrer de 2018 onde há indícios de denúncias sobre falsificação de documento particular, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A reportagem ainda teve acesso a contratos e planilhas com mais de 200 páginas, com evidências de quebra de regras da Fifa e da CBF, além do Profut, por parte da diretoria do Cruzeiro.
Um dos casos relatados mostra um contrato mútuo de empréstimo entre o Cruzeiro e o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, não licenciado na CBF. Ele formalizou um empréstimo de R$ 2 milhões ao clube. Como garantia, o time celeste repassou a Cristiano porcentagens de direitos desportivos de 10 jogadores, dentre eles o menor Estêvao Willian, de apenas 12 anos, apelidado de Messinho.
A prática de repasse de direitos a terceiros foi proibida pela Fifa e atletas só podem assinar seus primeiros contratos profissionais a partir dos 16 anos. Por conta da prática, o Cruzeiro pode ser punido pela Fifa ou CBF com a proibição de transferir jogadores e de registro de novos atletas.
No âmbito policial, um caso que chama a atenção é a utilização de uma empresa de fachada chamada AV & S Consultoria Desportiva Ltda. No balanço obtido pela Polícia Civil consta um pagamento de até R$ 369 mil no decorrer de 2018. A empresa possui três finalidades: “agenciamento de profissionais para atividades esportivas, culturais e artísticas”, “extração de madeira em florestas plantadas” e “comércio varejista de madeira e artefatos”. Porém, o local onde está localizado o endereço da empresa, na cidade de Itamarandiba, a 400 km de BH, está desocupado.
A principal torcida organizada do Cruzeiro, a Máfia Azul, também está na mira da Polícia Civil pelo pagamento de valores por parte do clube de patrocínio à chamada "TV Máfia Azul". No balanço, quem recebe os valores é Daniel Gomes Sales, conhecido como Quik, diretor da organizada. O valor chega a R$ 88 mil recebido no decorrer de 2018.
Implicações
Os conselheiros do Cruzeiro também foram acusados de omissão. Eles estariam sendo "comprados" pela atual gestão do Cruzeiro com ingressos, convites em festas do clube e camisas. A situação causou um grande mal estar no conselho deliberativo, sendo precisa a presença de Zezé Perrella, presidente do concílio, para tentar reunir as partes discordantes. Como efeito cascata, todos os conselheiros fiscais do Cruzeiro, responsáveis por analisar as contas, renunciaram aos seus cargos, sendo necessária uma eleição para uma nova composição administrativa.
O presidente Wagner Pires de Sá e seus apoiadores, Sérgio Nonato, diretor geral, e Itair Machado, vice-presidente de futebol, passaram a ter seus cargos questionados, os dois últimos por seus altos salários e comissões que ultrapassavam milhões. Torcedores e uma ala de conselheiros pediram a renúncia dos diretores, fato que só será decidido no dia 5 de agosto, quando uma reunião extraordinária do conselho vai definir a situação do atual presidente Wagner Pires de Sá, optando por sua sequência no clube ou a saída.