2023 conturbado

Relembre confusão do Cruzeiro com o Mineirão, nova casa 'exclusiva' do time

Clube e concessionária entraram em congruência recentemente; contrato válido até 2025 está prestes a ser assinado

Por Frederico Jota, Gabriel Moraes e Paula Coura
Publicado em 29 de setembro de 2023 | 10:50
 
 
 
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Desde quando Ronaldo Fenômeno assumiu a gestão do futebol do Cruzeiro, entre o final de 2021 e o início de 2022, ele e sua equipe teceram diversas reclamações à Minas Arena, concessionária que administra o Mineirão. Nunca ficou claro o que estava realmente errado, na visão do clube, apenas que as taxas cobradas para jogar lá eram altas.

O ponto alto aconteceu em janeiro deste ano. Em uma de suas lives em seu canal na rede social Twitch, o sócio-majoritário da SAF estrelada afirmou: "Nós damos a nossa relação com a Minas Arena como rompida. Não haverá nenhum jogo nosso no Mineirão neste ano. É um problema grande que o governo do estado precisará resolver. A população e o torcedor do Cruzeiro têm o Mineirão como a sua casa. Só que um contrato mal feito de antes da Copa de 2014 fez o governo ficar refém".

Segundo ele, os jogos de 2022 do time como mandante no local poderiam ter sido mais favoráveis financeiramente. "A minha vontade era de ter rompido com o Mineirão no ano passado, quando começou a nossa gestão. Porque as condições sempre foram horríveis para o Cruzeiro. A Minas Arena possui um contrato com o governo estadual muito confortável, onde eles têm todas as armas na mão para efetuarem negociações boas para eles, e numa boa para a gente", explicou.

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Logo em seguida, Cruzeiro e América anunciaram que firmaram um acordo para a Raposa atuar na Arena Independência durante o ano. Os termos do acordo, como valores e números de jogos, por exemplo, não foram divulgados, mas ficou claro que seria mais interessante atuar no Horto.

“Desde o início das conversas, o Cruzeiro foi sempre muito respeitado pelo América, que entendeu prontamente quais são nossas necessidades e anseios, em um momento turbulento da discussão sobre estádios. Então, somos gratos pela maneira como esse acordo foi conduzido e esperamos que seja apenas uma primeira etapa de uma construção conjunta entre os clubes”, falou Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, na época.

Ainda em janeiro, o governo de Minas Gerais criou um comitê para intermediar o conflito, visto que o Estado, que reformou o Mineirão, concedeu o poder de administrar a arena à empresa, em uma Parceria Público-Privada (PPP). Após reuniões com as partes, em abril, Minas Arena e Cruzeiro entraram em acordo – na época, foi assinada uma premissa comercial, uma espécie de pré-contrato. O definitivo, que ainda não foi firmado, tem previsão de término no final de 2025.

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Em outubro de 2022, em entrevista ao O Tempo Sports, o diretor comercial da Minas Arena, Samuel Lloyd, disse que seu objetivo foi sempre ter uma boa relação com os clubes, em especial o Cruzeiro, que viraria seu único grande cliente, devido à construção da Arena MRV, novo estádio do maior rival. Ao mesmo tempo, ele criticou falas dos ‘cartolas’.

"O Mineirão é um espaço que gera muitas declarações e fake news. O que podemos dizer agora é que o contrato (com a Minas Arena) está vigente, que deve continuar até 2037. Em momentos de política, essas falas acabam ficando mais exageradas. Nada muda no Mineirão pelos próximos anos. Toda vez que tem mudança de gestão, no caso, a chegada da SAF, é conturbado, pois muitas vezes esses profissionais não entendem qual é o papel do Mineirão e a força do nosso contrato. E isso gera uma série de ruídos, como vimos neste ano", afirmou.

Atualmente, devido a um acordo com a Raposa, a empresa e seus funcionários não podem mais dar declarações ou posicionamentos sobre esse assunto. O Cruzeiro também foi procurado pela reportagem para se posicionar a respeito da atual situação entre o clube e o estádio e, até o momento de publicação desta matéria, optou por não passar mais informações ou detalhes. O Cruzeiro tem uma dívida superior a R$ 10 milhões com a arena devido a custos não pagos de jogos em anos anteriores, em especial durante a presidência de Gilvan de Pinho Tavares (2012 a 2017).

Especialista opina

Segundo Ricardo Alves, doutor em Estratégias Organizacionais e coordenador do curso de Gestão do Futebol da CBF Academy, as reclamações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) a respeito dos valores cobrados pela gestão do estádio não vieram em boa hora, principalmente porque a segunda opção é o Independência, que possui praticamente um terço da capacidade do Mineirão e não caiu nas graças da torcida. Para ele, Ronaldo alardeou uma situação que poderia ter ficado entre quatro paredes.

“Acho que não era o momento adequado para isso. O Cruzeiro foi muito feliz no ano passado atuando no Mineirão, com esse retorno à Série A do Campeonato Brasileiro. Lotou muitos jogos. No início deste ano, o Ronaldo não tinha um plano B, outro estádio que poderia se tornar a sua casa. A migração para a Arena Independência resolve parcialmente o problema em alguns jogos, como do Campeonato Mineiro, quando não se tem uma demanda alta”, disse Alves.

Posição

O Tempo Sports tentou entrevista com algum representante do clube para falar sobre a relação com o Mineirão, mas sem sucesso. Já a Minas Arena informou que, por contrato, não pode mais comentar oficialmente sobre vínculos com os clubes mineiros.

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