Superação, estreia e um desafio fora das pistas. Três mineiros com histórias bem diferentes, mas que têm em comum o mesmo cenário dos sonhos: a Maratona do Rio de Janeiro, que será no domingo (22). Enquanto dois se preparam para encarar os 42 km na orla carioca, outro tem que lidar com o difícil papel de espectador forçado, após uma lesão inesperada.
De um lado, um atleta experiente que volta à prova buscando melhorar seu desempenho. Do outro, uma corredora que vai viver, pela primeira vez, a emoção de completar uma maratona. No meio de tudo isso, um corredor de alto rendimento que, mesmo longe da largada este ano, segue na corrida pela recuperação.
São trajetórias que mostram que a maratona não começa no tiro de largada nem termina na linha de chegada. Ela acontece todos os dias, nos treinos, nas renúncias, nos tropeços e, principalmente, na vontade de seguir em frente. São essas histórias que O TEMPO Sports vai contar.
Sede de superação
Experiente nas corridas de rua, o cirurgião dentista Cláudio Otacílio Jardim de Meira Cutrim Silva, de 30 anos, conta que sua história com o atletismo começou ainda quando criança, mas, somente há seis anos ele passou a dar a devida atenção ao esporte. “A corrida sempre fez parte da minha vida, quando ainda era uma criança e jogava bola, porém, me dediquei aos treinamentos específicos a partir de 2019 e desde então faço parte da corrida”, comenta.
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Até chegar na Maratona do Rio, Cláudio Jardim participou de inúmeras provas na orla da Lagoa da Pampulha, com trajetos de 5 km, 10 km e 21 km. Mesmo sendo atleta amador, o cirurgião dentista já viveu a experiência de subir no pódio. “Algumas vezes é uma sensação maravilhosa , já que sou um atleta amador e posso competir em alto nível. Ser contemplado com um pódio é muito gratificante”, disse.
Mas se engana quem acredita que participar de uma maratona, como a do Rio, é a parte mais difícil na vida de um atleta. Para Cláudio Jardim, a linha de chegada é apenas a coroação de um ciclo. “A parte complicada da maratona não são os 42 km, pois completar a prova é, simplesmente, a coroação de todo o esforço feito durante o ciclo, que consiste em uma alimentação focada e em suprir as necessidades dos treinos desgastantes. Além disso, é preciso realizar fortalecimentos específicos para os membros inferiores, que são muitos exigidos na preparação para maratona”, completou.
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Além disso, Cláudio vive toda a rotina necessária de um atleta amador. Ele precisa conciliar treinos, profissão, família e lazer. “Como atleta amador, preciso conciliar meus treinos com a minha vida profissional e pessoal. Preciso organizar para dar o meu melhor no dia a dia. Meus treinamentos começam às 4h, em seguida tomo meu café e levo meus filhos à escola às 6h30. Depois, vou para o consultório para atender o meu primeiro paciente, normalmente às 8h. Saio do consultório por volta das 19h30 e vou à casa dos avós, que estão com os meus filhos. Chego em casa por volta das 21h e neste momento dou atenção para eles. Por conta de minha rotina, Maria Alice, de 5 anos, e o Davi, de 3, acabam ficando com muita saudade do pai e eu deles. Após esse momento de descontração, eu vou dormir, por volta das 22h”, relata.
Primeira maratona: da corrida de domingo ao desafio dos 42 km
Já a professora de educação física Stephanie Silva Fagundes, de 33 anos, está prestes a viver a experiência da sua primeira maratona. Ela começou a correr quase por acaso, depois de um convite de uma amiga para acompanhá-la em uma corrida na capital mineira. “A minha primeira corrida de rua foi em 2020. Fui convidada por uma amiga e quando senti a energia de correr na rua com outras pessoas, me apaixonei e não parei mais. Comecei com uma prova de 5 km. Depois passei a me inscrever apenas em provas de 10 km. Com o passar do tempo, migrei para 21 km e agora vamos para a primeira de 42 km”, conta.
A educadora, que começou a correr há cinco anos, conta que, no início, achava muito correr 5 km, tanto que nunca imaginou que participaria de uma maratona. Porém, ela gosta de desafios e passou a investir nos treinos, a princípio duas vezes por semana. “Sempre tive em mim uma coisa de gostar muito de desafios. Por isso, aumentar a quilometragem aconteceu de forma natural e, quando dei conta, estava inscrevendo em minha primeira maratona”, relata.
Para Stephanie, os desafios da Maratona do Rio vão além da rotina diária de treinamentos. Para custear as despesas como passagem, hospedagem e alimentação, ela fez uma rifa e se surpreendeu com o resultado. “Não imaginava que daria tanto 'Ibope'. No fim, eu vendi todos os números e isso me ajudou muito, pois tive gastos com suplementação, cuidados e equipamentos”, finaliza.
Quando o corpo pede pausa: a luta de quem ficou de fora
Do outro lado dessa linha imaginária entre largada e chegada, está o técnico em radiologia Paulo Henrique da Silva, o Peninha, de 36 anos, que precisa lidar com um dos maiores temores de qualquer corredor: a lesão. Depois de já ter participado da Maratona do Rio duas vezes e com um histórico de performance de alto nível, ele viu o sonho de 2025 ser interrompido por uma lesão. "É difícil aceitar, confesso. Estava em um bom ritmo, determinado a melhorar meu desempenho. A lesão chegou de surpresa e me forçou a parar. Agora, estou focando no que posso controlar: o tratamento, a recuperação e o equilíbrio mental para voltar com tudo", desabafa.
De acordo com o atleta Peninha, sua lesão foi reflexo do treinamento exaustivo. Foram 400 dias consecutivos, somando 5.207 km percorridos e um total de 53 provas, das quais subiu ao pódio em 43 oportunidades.
Após a lesão, Peninha vem tendo diversos gastos com medicamentos e fisioterapia. Ele acredita que, se tivesse mais apoio, tudo poderia ser diferente. “Minha recuperação está sendo bem lenta, até porque é uma lesão bem chata de tratar. Estou fazendo fortalecimento e recebendo cuidados de fisioterapeuta e algumas técnicas de New Seitai (técnica terapêutica de origem japonesa). Neste ano não faltou vontade de prestigiar a Maratona do Rio, mas a falta de patrocínio para ajudar com os custos e as lesões me desanimaram”, conclui.
Peninha, que também é ultramaratonista, teve sua melhor marca em 2023, quando completou os 42 km da Maratona do Rio com o tempo de 2h41m26s. Ele é considerado um dos atletas mais velozes de Belo Horizonte.
Cada um à sua maneira, esses três mineiros mostram que a corrida é feita de fases. Tem a fase da preparação, a da conquista e, às vezes, a da pausa forçada. Mas uma coisa é certa: a vontade de seguir correndo continua sendo o combustível que os une.
Como funciona a Maratona do Rio
O evento como um todo começa nesta quinta-feira (19) com uma corrida de 5 km, com largada e chegada no Aterro do Flamengo. Na sexta-feira (20) será a vez da disputa dos 10 km, com o mesmo trajeto. No sábado (21) terá a meia maratona, de 21 km. Nesta prova os atletas vão largar no bairro do Leblon e a chegada será no Aterro do Flamengo. Já a Maratona será no domingo (22), prova que passará pelo Aterro do Flamengo, Botafogo, Copacabana, Ipanema e Leblon. Para os 42 km os atletas terão o tempo de 6h para a conclusão da prova.
Na Maratona do Rio existe ainda o “Desafio Cidade Maravilhosa”, quando os atletas inscritos participam dos 21 km no sábado e no domingo fecham com os 42km.
* Sob supervisão de Frederico Jota