O Bahia conquistou uma inédita classificação para a segunda fase do Brasileirão feminino. Campeãs da Série A2 (o equivalente a Série B masculina) na temporada passada, as Mulheres de Aço encerraram a primeira fase na sétima colocação, após empatarem por 2 a 2 com o Juventude, nesta quarta-feira (18).
O feito ganha ainda mais relevância diante da composição do G8 da competição, majoritariamente formado por clubes do Sudeste — Cruzeiro, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Ferroviária e Red Bull Bragantino. Entre os rebaixados estão o 3B da Amazônia, representante do Norte, e o Sport, de Pernambuco, que teve a pior campanha da fase inicial.
A campanha é resultado de uma série de fatores: força coletiva, destaques individuais e reestruturação do futebol feminino no clube. Nas quartas, enfrenta o Corinthians, atual campeão e um dos favoritos ao título.
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Capitã do Bahia conta bastidores da campanha tricolor
Aos 24 anos, Mila Santos é capitã do Bahia e uma das atletas com mais tempo de clube. Desde que chegou, em 2020, o Tricolor de Aço virou sua casa. Nela, viu acessos e rebaixamentos e agora comemora uma classificação inédita ao mata-mata.
O Lance! conversou com a defensora sobre a campanha no Brasileirão feminino e mudanças no clube.
Lance! - Como foi sua chegada ao Bahia? E o que mudou desde então?
Mila Santos - Desde o dia em que cheguei sempre teve um interesse muito grande do clube em investir no feminino. Já tive experiências em outros clubes e muitas coisas que vi, antes mesmo de ser (do Grupo) City), já eram fruto de investimentos. E foi melhorando. Hoje temos estruturas exclusivas do feminino que nos ajudam muito, da fisioterapia, análise, fisiologia à médica. Isso tem nos ajudado a crescer e não é do dia para a noite, mas muito trabalho e investimento do clube.
L! - E qual o diferencial do Bahia? A quê atribuem essa classificação?
Mila - Um dos pilares para essa conquista foi o grupo. Algumas atletas não eram titulares no início da competição, mas apresentam a mesma vontade, mesma entrega. Um grupo unido faz muita diferença. É o sonho de todas. Depois que investiram em mais membros da comissão, tudo melhorou. O Felipe (treinador) traz muita confiança para a gente, inclusive para as atletas mais jovens. Ele também nos dá muita confiança para aprimorarmos no que somos boas.
L! - E qual era a meta antes do início do Brasileirão?
Mila - A meta não era apenas permanecer, era classificar. E nossa conversa (internamente) era sobre isso, pois víamos entrevistas e pessoas falando: ‘ah, o Bahia vai lutar para não cair’. Sendo que nossa conversa sempre foi em classificar e classificar bem. Todas abraçaram a ideia e o clube ajudou.
L! - O Bahia é o único nordestino a se classificar para a segunda fase. O Sport, de Pernambuco, terminou rebaixado à Série A2. Qual sua visão sobre isso?
Mila - Eu fico triste em ver o Sport sendo rebaixado. Precisa investir, olhar mais para o feminino. A gente tenta, de todas as formas, representar o povo nordestino. Eu principalmente, por ser nordestina, como outras do elenco. Nós sentimos essa responsabilidade de representar a região.
L! - E agora, qual a meta? O que projetam para a segunda fase?
Mila - Nosso pensamento é chegar na final e ser campeão. Sabemos que não vai ser fácil, há equipes muito fortes, que já estão há muito tempo disputando as finais, mas mostramos ao longo da competição que temos capacidade.
Futebol feminino no Bahia
Desde a chegada do Grupo City, em 2023, o futebol feminino do Bahia passou por uma reestruturação. O clube, que por anos figurava apenas no cenário estadual, deu um salto de qualidade com investimentos em estrutura, comissão técnica e planejamento.
Após o rebaixamento à Série A2 em 2023, o time se reorganizou e, sob comando da técnica Lindsay Camila, conquistou o primeiro título nacional da história do clube ao vencer o 3B Sport, do Amazonas, na final da segunda divisão nacional.
Com a criação do cargo de gerência para o futebol feminino, hoje liderado por Carol Melo (ex-Ferroviária e Atlético-MG), o Tricolor passou a contar com uma ala exclusiva no CT Evaristo de Macedo, equipada com academia, sala de descanso e áreas de lazer.
Em 2024, colheu frutos e oficializou a primeira venda da história do clube no futebol feminino. A atacante Letícia foi negociada com o Al-Ittihad da Arábia Saudita, sem valores divulgados.
Nesta edição do Brasileirão, foram sete vitórias, três empates e cinco derrotas, com 26 gols marcados e 22 sofridos. A atacante Cássia, com seis gols, é a artilheira do time, que também conta com boa fase de Rhaizza (5 gols) e Wendy Carballo (4).
Desafios do Tricolor
Mesmo com a crescente dos últimos anos, ainda há muito a evoluir. O clube não conta com categorias de base no feminino, e todas as jogadoras foram contratadas de outras equipes. A média de idade do elenco é de 27,61 anos — uma das mais altas da Série A1. A maioria é brasileira, com apenas três estrangeiras: duas uruguaias e uma paraguaia.
Nesta temporada, o Bahia mandou a maior parte dos seus jogos no Estádio Joia da Princesa, em Feira de Santana, localizado a mais de 100 km de Salvador, com capacidade de pouco mais de 16.000 torcedores. A exceção foi a partida na Arena Fonte Nova, contra a Ferroviária, pela 13ª rodada.
Em entrevista pós-jogo, a atacante Rhaizza comemorou a realização da partida na arena.
— É um sonho de todas jogar aqui, a gente até falou na rodinha, foi muito difícil convencer a jogar aqui e agora estamos mostrando o porquê de jogar aqui — disse ela, em entrevista ao "Sportv".