O que o mundo verá nos Estados Unidos em 2026? A julgar pela experiência chamada Copa do Mundo de Clubes, o torcedor pode ter a certeza de que não faltarão estádios, inclusive até mais modernos dos que os que têm sido apresentados no novo Mundial, como o Sofi Stadium, em Los Angeles, o mais caro do planeta. Mas em termos de economia e infraestutura, alguns gargalos são evidentes.
Teremos mudanças nas cidades-sede da Copa? Com absoluta certeza. Mas elas não deverão ser tão profundas assim, como, por exemplo, o caderno de encargos que o Brasil se comprometeu a executar para o Mundial de 2014. Houve várias exigências ao país do futebol, mas nem todas as obras foram concluídas no tempo previsto.
Em relação aos Estados Unidos, o país se considera pronto. Porém, dos 11 estádios escolhidos pela FIFA para o Mundial do próximo ano, três são abastecidos apenas por linhas de ônibus locais — Hard Rock Stadium (Miami), Sofi Stadium (Los Angeles/Inglewood) e Arrowhead Stadium (Kansas City). Ou seja, se você não pegar um ônibus, terá que se arriscar em um transporte via aplicativo ou táxi — podendo pagar caro — ou ter que alugar um carro.
A preferência pelo carro
Para chegar a Foxborough, no Gillette Stadium, a casa dos Patriots da NFL, a única possibilidade via transporte público é a utilização de uma linha de trem regional. Essa disparidade se explica pela preferência norte-americana de se deslocar de carro.
Enquanto o Estádio Olímpico de Berlim, por exemplo, possui apenas 630 vagas de estacionamento e um sistema de metrô com capacidade para transportar 40 mil pessoas por hora e uma estação de U-Bahn com trens a cada dois minutos, cada um com capacidade estimada de 250 passageiros, o Gillette Stadium tem mais de 23 mil vagas de estacionamento e muitos espectadores de jogos da NFL costumam demorar até três horas para deixar o local após o término dos jogos.
Um dos grandes desafios será em Kansas City, no Missouri, já que o Arrowhead é considerado um dos estádios menos acessíveis para se locomover a pé segundo dados da própria NFL. Em grandes eventos, são registradas 4 mil viagens de transporte compartilhado, com quase 25% dos participantes chegando de Uber ou Lyft.
A expectativa norte-americana é de investimentos bilionários em aumento nas operações de linhas de ônibus, metrôs e trens, possibilitando que o período de espera seja diminuído de forma considerável nas cidades-sede. Não é preciso lembrar que a Copa do Mundo do próximo ano terá um componente peculiar — a presença de 48 seleções. Com os Estados Unidos recebendo praticamente a maioria dos confrontos — serão 78 jogos no país —, a infraestrutura será mais do que testada.
Falta informação
Não espere estações bonitas ou uma sinalização que te faça entender como chegar ao estádio com facilidade. Ao menos na Copa do Mundo de Clubes, os torcedores estão tendo que se virar no inglês, perguntando aos trabalhadores locais, ou tendo que contar com a ajuda dos próprios usuários.
"Tive um pouco de dificuldade quando precisei trocar de estação aqui na Filadélfia, então fui ajudado por um funcionário. Muitas coisas a gente vai na intuição, mas outras são mais específicas porque a gente pode pegar o metrô que está indo para o lado oposto da cidade", disse o flamenguista Ricardo Fonseca, relatando um pouco de sua saga para acompanhar a vitória rubro-negra sobre o Chelsea por 3 a 1, pela fase de grupos.
Já no MetLife Stadium, o palco da final do Mundial de Clubes e da Copa do Mundo do próximo ano, a ligação via Secaucus Junction conta com funcionários até bem humorados na orientação dos torcedores, inclusive utilizando cartazes para indicar onde se dirigir.
Mas a movimentação fica comprometido depois de certo período de tempo e o torcedor pode ter que esperar até uma hora para que o trem — seja em direção a Nova York ou Nova Jersey — passe.
"Creio que eles farão uma operação melhor durante a Copa, quando muitas pessoas virão aos Estados Unidos. O potencial do país será muito explorado e eles já possuem expertise em eventos desta natureza", apontou o analista de mercado Jackson Chaves.
Para o brasileiro, que vive nos EUA, tudo estará dentro dos conformes.
"Pode parecer lentos por agora, mas as mudanças vão chegar com a proximidade da Copa do Mundo do próximo ano. Não tenho dúvidas", acrescentou.