Em 2019, o cruzeirense Yuri Senna reuniu, em um grupo de WhatsApp, torcedores do Cruzeiro que eram alvos de homofobia no futebol. Após sofrer ataque homofóbico no Mineirão, ele decidiu fortalecer a empreitada e criou a torcida Marias de Minas.
“Fomos rejeitados por boa parte das torcidas organizadas, sofremos ameaças e tivemos a conta no Twitter (atual X) suspensa porque fizeram um mutirão para nos denunciar”, relembra Senna.
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Frases homofóbicas que devemos tirar do nosso vocabulário
Além de levantar a necessidade da luta contra a homofobia no esporte, adotar o nome Marias potencializou a ira dos detratores.
“Porque Maria é um termo que os adversários usam para ofender os cruzeirenses, de cunho homofóbico. É um dos motivos que causa muita revolta nos torcedores do próprio time. Mas eles não conseguiram entender que estávamos nos apropriando do nome, transformando em símbolo de luta contra o preconceito que está vinculado ao próprio termo. Não viram que estávamos usando com outro sinal para ressignificar toda essa luta”, esclarece o cruzeirense.
Penas contra a homofobia previstas na lei
Atos discriminatórios são previstos no artigo 243-G do Código de Justiça Desportiva Brasileiro e podem implicar suspensão de cinco a dez partidas, caso sejam praticados por jogadores, treinadores e demais membros da comissão técnica. Se forem praticados por outra pessoa submetida ao CBJD, o gancho pode ser de 120 a 720 dias, além de multa de até R$ 100 mil.
Punição é 'branda', segundo ativista
Senna aprova as punições que têm sido impostas pelo STJD em casos de ataques homofóbicos nas partidas de futebol. Porém, não considera a medida mais eficaz.
“O Flamengo foi punido em R$ 50 mil. O que isso muda na situação? Porque a punição é corretiva, mas não educativa. Precisamos trabalhar muito mais na transformação da realidade, do que só ter uma punição, que fica por isso mesmo e acabou. Os casos de homofobia no futebol continuam aumentando, ao mesmo tempo, que as denúncias, os julgamentos e as punições crescem”, argumenta Senna.
O fundador da Marias de Minas cobra também mais participação pública e dos clubes no combate à homofobia. “É importante que o Legislativo ande com isso para criar políticas públicas, leis e aperfeiçoar o que já existe para que a gente acompanhe o cenário, porque há um prejuízo histórico. Estamos em 2024 e ainda estamos falando que pessoas LGBTs não conseguem ir ao estádio de maneira segura. Antes de torcer para o seu clube, elas precisam se preocupar se elas vão voltar vivas para casa ou não”, lamenta.
Dia Internacional Contra a Homofobia
O Dia Internacional Contra a Homofobia é celebrado em 17 de maio porque foi nesta data, em 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID).